30.4.03

Hoje, Dia Nacional da Mulher

Mulher é, simplesmente, a criatura mais batuta que habita este planeta (sim, meus caros, é mais batuta que os ornitorrincos!). por este simples motivo, eu acho que ter um dia pra mulher é baboseira.

todos os dias devem ser pras mulheres.

tudo bem, eu admito. é meio brega falar isso hoje.
soa piegas e cheira perfume barato de gafieira, mas é o que eu sinto.


Essa beleza de post eu encontrei lá no blog do meu querido amigo blogueiro mineiro, o Caio Cesar.
Uma Mulher
[Bruna Lombardi]

Uma mulher caminha nua pelo quarto
é lenta como a luz daquela estrela
é tão secreta uma mulher que ao vê-la
nua no quarto pouco se sabe dela

a cor da pele, dos pêlos, o cabelo
o modo de pisar, algumas marcas
a curva arredondada de suas ancas
a parte onde a carne é mais branca

uma mulher é feita de mistérios
tudo se esconde: os sonhos, as axilas,
a vagina
ela envelhece e esconde uma menina
que permanece onde ela está agora

o homem que descobre uma mulher
será sempre o primeiro a
ver a aurora.

Nunca tinha lido nada da atriz e poetisa Bruna Lombardi. Adorei. Não fora por esse post do Mestre, não sei quando eu leria. Não é preconceito intelectual. Longe disso. Falta de oportunidade, tempo, ou sei mais lá o quê.
Hoje, 30 de abril, DIA NACIONAL DA MULHER, portanto esse post é uma homenagem a uma mulher e artista brasileira.

27.4.03

Toda força aos artistas de rua. Viva os malabaristas de cruzamentos. Na falta de grana, pede-se não regatear aplausos na janela do carro.
Assim falou o Sergio Faria do Catarro verde, -- um blog transparente.
Faço minhas as suas palavras, Mestre!

26.4.03

* Se você obedece a todas as regras, perde toda a diversão. (Katherine Hepburn, atriz)


24.4.03

TVE homenageia Mauro Rasi

A TVE ( Rio) prestou uma homenagem ao jornalista e dramaturgo Mauro Rasi no dia de sua morte, reprisou o depoimento que ele deu ao programa A Verdade, no dia 19 de janeiro deste ano -- sua última grande entrevista em um programa de televisão.

Esse depoimento vai ser reprisado novamente na TVE (Rio), no próximo domingo dia 27, às 22,30hs.

A entrevista mostra toda a carga de humor que sempre caracterizou o dramaturgo, um dos precursores do teatro besteirol brasileiro e autor de sucessos como Estrela do Lar, Cerimônia do Adeus, Pérola, Batalha de arroz num ringue para dois, entre outras.

Segundo a assessoria de imprensa da rede de televisão, nada foge às observações sempre afiadas de Mauro, nem mesmo o apresentador Fernando Pamplona, a quem ele declara: "sempre tive medo de vir a esse programa, tinha medo da sua voz, essa coisa meio do além. Me sinto assim como num processo de Kafka versão Atlântida, com essa obrigação de ficar respondendo às perguntas. Muitas vezes a gente não tem a resposta" .

Entre as perguntas que o atemorizaram, Mauro elegeu a que tratava de sua inquietação sobre as dificuldades do teatro brasileiro: " essa é uma das tais perguntas que eu não sei responder. Se me perguntar sobre as minhas tias, meus cachorros, do meu abacateiro, sobre Bauru, daí eu sei responder", disse.

Deu no "Estadão" de 24/04/03
Se a minha empregada falasse... foi o lançamento do autor no Rio de Janeiro
O Mauro chegava ao Rio com uma carreira bem sucedida em São Paulo, com sucesso de crítica e de público. A Massagem que ganhou o Prêmio Anchieta, quando Mauro tinha apenas 21 anos. Essa peça foi montada logo depois pela atriz e produtora Ruth Escobar. Ladies da Madrugada com direção de Amir Hadad foi produzida pelo cantor Ney Matogrosso e interpretada pelo Patrício Bisso, entre outros, e se constituiu também num grande sucesso de público e de crítica.

E a sua estréia aqui no Rio, com Se a minha enpregada falasse..., teve uma recepção morna, os críticos receberam com certa reserva, o autor, um dos precursores do teatro besteirol, que chegava aqui premiado e prestigiado em São Paulo. Da minha parte, responsável pelo seu lançamento aqui no Rio, eu fiz de tudo e mais um pouco no meu trabalho. Claro, estávamos amigos de infância, e além de tudo, Mauro era um sedutor, e eu estava completamente seduzida pelo amigo maravilhoso que ele sabia ser, e pelo autor talentoso e competente.
Eu sempre acreditei no talento dele, e à época eu fiquei chocada com as críticas e achei que foram injustos com ele. E nunca esquecí o que ele falou pra mim na ocasião, e repetia sempre que eu me chateava com as críticas ao espetáculo:

Eu vou fazer o maior sucesso, serei um dos maiores... um dos maiores, não. Serei o maior autor, terei as maiores atrizes e atores desse País trabalhando nas minhas peças. Ah, um dia eu vou dirigir as minhas peças. Eu vou ser carregado no colo pelo público. E não vai ser o sucesso de uma peça só, serão vários sucessos, vou ganhar o Molière, o Governador do Estado, Estácio, todos os prêmios e troféus. Relaxa, fica fria, e me aguarde, Ruth Mezeck! Depois disso, ríamos muito, e até nos divertíamos com o tom das críticas e comentários sobre a peça. E, embora acreditasse no seu potencial, descontava o que eu achava que seriam os exagêros e delírios do Mauro.

Pois não é que o danadinho do Mauro trouxe para a real todos os seus sonhos e delírios. Ganhou todos os mais importantes prêmios de teatro do País (Molière, Mambembe, Anchieta, APETESP), trabalhou com Fernanda Montenegro, Paulo Autran, Nathalia Timberg, Cleide Iaconis, Paulo Goulart, Sergio Brito, Sergio Mamberti, Vera Holtz, entre outros importantes atores. Quanto a ser carregado pelo público, parece-me que lá em Baurú quando ele voltou lá autor consagrado para apresentar Pérola, esse lance aconteceu na real. Se não foi lá, foi em outro lugar.
Da minha convivência com ele, ficou o grande aprendizado para a minha vida toda: é possível trazer o nosso sonho para a real, quando amamos e acreditamos naquilo que fazemos, e vamos á luta!

23.4.03

A peça do Mauro Rasi que não foi mencionada por ninguém: SE A MINHA EMPREGADA FALASSE...
Se a minha empregada falasse, comédia em um ato interpretada pela atriz Thais Moniz Portinho, também figurinista e produtora do espetáculo, com a direção do Nelson Xavier, aquela época, recém chegado de uma temporada de estudos teatrais em Londres.
Cenários da Denise Weller.
A trilha sonora do Mauro Rasi e a execução da trilha Kaka Dyonisos ( brother Kaka do Asdrubal Trouxe o Trouxe o Trombone),
Fotos da peça e do cartaz: Ricardo Zoom ( brother Ricardo fotógrafo do Asdrubal Trouxe o Trombone). O Ricardo Zoom era o pseudônimo do atual diretor de nucleo da novelas da TV Globo, o RIcardo Wadington.
Iluminação - criação: Nelson Xavier
Produção executiva: Luiz Joseli
Divulgação e Promoção do espetáculo: Ruth Mezeck (brother La Mezeck assessora de imprensa e divulgadora do grupo Asdrubal Trouxe o Trombone)

Elenco: Thais Portinho (Ema), Ary Coslov, Nelson Xavier, Luiz Carlos Buruca, Jacqueline Laurence (vozes em gravação) e Sonia Claudia (Delizeth, a empregada).

Estreiou dia 5 de maio de 1978 no TEATRO DO MUSEU DE ARTE MODERNA - Sala Corpo-Som. ( O Teatro do MAM era administrado pelo Sidney Miller ).
Esse espetáculo fez temporada em São Paulo no Teatro Eugenio Kusnet e excursionou pelo País: Brasilia, Goiania, duas cidades do interior de Minas, e várias capitais do Nordeste, começando por Maceió, me lembrou a Thais Portinho por telefone.


A homenagem do adeus para Mauro Rasi

Conhecí o Mauro Rasi no final dos anos setenta através da atriz Patricia Travassos, integrante do elenco de Trate-me Leão, o terceiro espetáculo do grupo Asdrubal Trouxe o Trombone. Estávamos numa festa em casa de amigos, e a Patricia que estava sem carro naquele dia, me convidou para irmos até o Cosme Velho para buscar um amigo dela, um paulista que estava morando no Rio. Era o Mauro Rasi.

Voltamos os três para a festa. Eu e o Mauro, calibradíssimos, com tudo o que tinhamos direito, muito alegrinhos e satisfeitos, fomos dos ultimos a sair dessa festa. E na saída, ao invés de nos dirigirmos para o meu carro, passamos por ele, e nem olhamos, como coisa que não tivesse nada a ver conosco, e continuamos andando, sem que nenhum de nós dois pronunciasse qualquer palavra. Nem precisava. Estávamos sintonizados na mesma onda, vibrávamos no mesmo diapasão, e a palavra era desnecessária, naquele momento.

E assim, silenciosos, ficamos andando de madrugada pelas ruas desertas de Ipanema pelo simples prazer de andar, sentindo o cheiro, os ruidos, os sons da madrugada, e curtindo a companhia um do outro, como se fossemos amigos de infância. Às vezes, ele acelerava e ia na frente, outras vezes, eu me adiantava, mas estávamos sempre juntos, e esse lance era um simples jôgo que estabelecemos para sacar a nossa ligação em determinados momentos.

Teve um gesto inesquecível do Mauro quando estávamos passando em frente a um muro com grossas grades de ferro, e daí ele levantou um braço e foi passando a mão espalmada por cada uma daquelas grades, produzindo um efeito sonoro. E assim como duas crianças -- livres, leves e soltas, continuamos o nosso passeio na madrugada, e quando nos demos conta já estavamos em pleno Canal, quasi chegando no Leblon. Dalí, voltamos no mesmo clima até a rua onde o meu fusquinha nos aguardava.

Esse nosso encontro originou uma bela amizade, nem longa e nem duradoura, mas muito intensa enquanto durou. E tanto, que algum tempo depois eu fui responsável pela divulgação e a promoção (promoter na linguagem atual ) da primeira peça do Mauro apresentada aqui no Rio -- um monólogo. A vida nos afastou, e há muito tempo que eu não via o Mauro, mas acompanhava a sua vida pelas notícias dos jornais. No meio teatral, acontece muito disso, a gente convive uma determinada época, em determinado trabalho e depois a gente se separa. A gente volta a se encontrar em outro trabalho, ou não.

Hoje, eu estou postando esse texto aqui com uma imensa tristeza e uma dolorida saudade do Mauro, tendo na minha memoria emotiva a imagem muito vívida daquele menino lindo e esperto do passeio naquela madrugada. Esse post, além de uma homenagem, é para dizer da importância da nossa convivência e da minha gratidão pelo quanto eu aprendí com ele.

20.4.03

A tese do coelho
Num dia lindo e ensolarado o coelho saiu de sua toca com o notebook e
pôs-se a trabalhar, bem concentrado.
Pouco depois passou por ali uma raposa, e viu aquele suculento coelhinho tão
distraído, que chegou a salivar. No entanto, ela ficou intrigada com a
atividade do coelho e aproximou-se, curiosa:

-- Coelhinho, o que você está fazendo aí, tão concentrado?

-- Estou redigindo a minha tese de doutorado, disse o coelho, sem tirar os
olhos do trabalho.

-- Hummmm... e qual é o tema da sua tese?

-- Ah, é uma teoria provando que os coelhos são os verdadeiros predadores
naturais das raposas. A raposa ficou indignada:
-- Ora!!! Isso é ridículo!!! Nós é que somos os predadores dos coelhos!

-- Absolutamente! Venha comigo à minha toca que eu te mostro minha prova
experimental.
O coelho e a raposa entram na toca. Poucos instantes depois ouvem-se alguns
ruídos indecifráveis, alguns poucos grunhidos e depois... silêncio. Em
seguida, o coelho volta, sozinho, e mais uma vez retoma aos trabalhos de sua
tese, como se nada tivesse acontecido.
Meia hora depois passa um lobo.
Ao ver o apetitoso coelhinho tão distraído, agradece mentalmente à cadeia
alimentar por estar com o seu jantar garantido. No entanto, o lobo também
acha muito curioso um coelho trabalhando naquela concentração toda e resolve
então saber do que se trata aquilo tudo, antes de devorar o coelhinho:
--Olá, jovem coelhinho. O que o faz trabalhar tão arduamente?

-- Minha tese de doutorado, seu lobo. É uma teoria que venho desenvolvendo há
algum tempo e que prova que nós, coelhos, somos os grandes predadores
naturais de vários animais carnívoros, inclusive dos lobos. O lobo não se
conteve com a petulância do coelho:

-- Ah! Ah! Apetitoso coelhinho! Isto é um despropósito. Nós, os lobos, é que
somos os genuínos predadores naturais dos coelhos.

-- Aliás, chega de conversa...

-- Desculpe-me, mas se você quiser eu posso apresentar a minha prova
experimental. Você gostaria de acompanhar-me a minha toca? O lobo não
consegue acreditar na sua boa sorte. Ambos desaparecem toca adentro. Alguns
instantes depois ouvem-se uivos desesperados, ruídos de mastigação e...
silêncio.

Mais uma vez o coelho retorna sozinho, impassível e volta ao trabalho de
redação da sua tese, como se nada tivesse acontecido.
Dentro da toca do coelho vê-se uma enorme pilha de ossos ensangüentados e
pelancas de diversas ex-raposas e, ao lado desta, outra pilha ainda maior de
ossos e restos mortais daquilo que um dia foram lobos.
Ao centro das duas pilhas de ossos, um enorme LEÃO, satisfeito, bem
alimentado, palitando os dentes.
MORAL DA HISTÓRIA:
1. Não importa quão absurdo seja o tema de sua tese;
2. Não importa se você não tem o mínimo fundamento científico;
3. Não importa se os seus experimentos nunca cheguem a provar sua teoria;
4. Não importa nem mesmo se suas idéias vão contra o mais óbvio dos conceitos lógicos;
5. O que importa é "QUEM ESTÁ APOIANDO SUA TESE"...

( A Valéria Pinheiro do grupo de sapateado Valtaper do Ceará copiou do Fábio D'Afonsêca e eu copiei da Valéria).
Dicas de programas

Para os baixinhos e altinhos oficinas de cerâmica, filme, contação de historia pelo índio da tribo umutina de Mato Grosso, o Antonio Uapodunepá. Digratis. Detalhes no blog de artes cênicas, o Teatro ETC & Tal.

Um espetáculo imperdível:Novas diretrizes em tempos de pazno Teatro do Leblon, é o encontro entre um funcionário do serviço de imigração e um polonês em busca do seu visto de permanência no Brasil ao fim da Segunda Guerra. Um delicado diálogo entre dois seres humanos solitários que necessitam da Arte para o resgate da sua humanidade.Toni Ramos e Dan Stulbach dão uma aula de teatro.

Cabaré, Café, Sarau Etc e Tal no Café do Teatro Glaucio Gil com a atriz Maria Pompeu e a cada semana um cantor músicos convidados. Um grande momento da carreira dessa atriz que sem o menor pudor faz uma restropectiva bem humorada da sua trajetoria artística contando e interpretando fatos e causos desconhecidos até dos seus amigos mais íntimos. O roteiro vai desde a sua infância, passando pela fase inicial no Duse aos 15 anos, teatro de revista, Certinha do Lalau, cinema, etc. até à contadora de histórias. E de quebra, o público escolhe os contos selecionados no programa de Drumond a Stanislaw Ponte Preta. O público adora o espetáculo e aplaude em cena aberta. Um trabalho digno e corajoso, merece uma ida ao Glaucio Gil para ver quantos cabarés, saraus, teatro, etc e tal são necessários para a sobrevivência de uma atriz brasileira em mais de quarenta anos de carreira.

19.4.03


DANÇANDO AS MAIS SAGRADAS

Levei hoje para a aula de danças sagradas, a minha maraca e o cocar. Estamos tendo aula com a professora substituta, a Valéria, enquanto a titular está viajando. Ela tinha pedido na aula passada que levassemos algum instrumento indígena.
Levei a maraca e mais o meu cocar. E não foi um privilégio meu, apareceram mais umas quatro maracas que foram para o centro da roda, antes de iniciarmos as danças.
E a Valéria levou uma plantinha com as sementes de urucum, para pintarmos o rosto e algumas partes do corpo, como bem entendessemos. Foi a festa !
O urucum dá um ótimo batom, com uma cor linda. E, além disso, pode ser usado também como sombra, dando o maior realce para os olhos. E, òbviamente, eu peguei discretamente algumas sementinhas a mais e vou usar na maquiage, em dias especiais.

Com o som das nossas maracas, com as pinturas de urucum, dançamos como nunca. Hoje, foi a vez das danças dos guaranís.
É a tribo mais suave, ao contrário das outras tribos, que batem forte com o pé no chão, os guaranis deslisam os pés pelo chão.
Dançamos deles, uma dança chamada Tangara, com movimentos e gestos delicados, imitando um pássaro prestes a voar. Foi a que mais me tocou. Dançamos ainda outra dos tupinambás, e, encerramos com o Toré, dos kariri-Xocó.
posted by Ruth Mezeck 22:38
archived 24.9.01
UPDATE: Em homenagem ao DIA DO ÍNDIO, um post antigo de uma aula de danças sagradas, na Faculdade e Escola Angel Vianna.

18.4.03

Contorcionistas de pênis?

Se a moda pega...eu quero ser juri nos testes de seleção de atores para esse espetáculo. Detalhes no meu blog de artes cênicas, o Teatro ETC & Tal.

17.4.03

Pernas pra que te quero

Final de expediente no meu trampo, mais de cem criancinhas da creche em fila, descem as rampas. As mães, pais e responsáveis no pátio, esperando as suas crianças, e os cadeirantes sendo conduzidos em suas cadeiras de rodas até o estacionamento, em direção às kombis. Enfim, o maior movimento no pátio, escadas, elevadores e rampas, quando nesse momento, desce do elevador e passa correndo em altíssima velocidade um menino adolescente de uns quinze anos, magro, franzino, mas de uma agilidade e velocidade impressionantes.
Atrás dele corre desvairada uma moça descalça e descabelada, e quando ela está quasi o alcançando, ele pula por cima de um banco no pátio, rumando para os lados do jardim. Daí, a moça pula também atrás, e quando ela quasi o alcança novamente, ele pula o murinho do jardim, voltando para o outro lado do pátio, e a moça sempre atrás dele, salta o muro também. E agora, já no pátio da frente, ele pega uma reta, correndo em direção ao portão de saída.

Mães se desviam assustadas, as crianças, algumas observam divertidas àquela correria louca, outras só olham sem entender nada, e todas as pessoas adultas estampam no rosto a sua preocupação porque sabem do perigo que significa a saída do garoto por aquele portão. E a pobre da moça completamente ensandecida acelerou total, e agora ela pula, salta, dando enormes saltos atrás do garoto. E, enfim a uns cinco ou seis passos da saída, ela consegue alcançá-lo segurá-lo por trás, puxando pela sua camisa. Ele tenta escapar, os dois se atracam, e quasi caem no chão.

O menino é mudo, e ao invés de gritos, ele solta uns grunhidos, emitindo uns sons bem primitivos que soam muito estranhos e assustadores. Daí, então, os dois gentís guardas que assistiam embevecidos à inesperada cena em frente à guarita da saída, se dão conta de que eles podem e devem interagir com a cena, segurando o garoto e dando um help para a moça. Ação quasi dispensável, porque a essas alturas, o professor de capoeira também estava chegando junto para ajudar a sua colega.

Os protagonistas dessa cena: eu, há quatro anos atrás no início do meu estágio na instituição, e um adolescente autista e com sérios disturbios comportamentais. Depois da nossa aula, eu acompanhava esse menino até a saida do elevador, onde a mãe o esperava sempre. Aconteceu que dessa vez, ela não estava lá, eu dei um ligeiro vacilo, e ele não vendo sua mãe, aproveitou a deixa e aprontou.
Mas o que poderia ficar como a marca de uma experiência desagradável, foi um grande aprendizado, e um marco definitivo para a minha futura atuação profissional. A estagiária, a partir desse dia, passou a ser olhada com mais respeito e consideração da parte dos guardas, dos antigos funcionários e dos demais.

16.4.03

Palavras mágicas

Ontem, (segunda-feira) em pleno pátio da FUNLAR uma cena típica da instituição: um adolescente com quasi cem quilos, teve uma crise psicótica, jogou-se ao chão gritando tanto que dava para ouvir em todo o quarteirão, e não havia quem o acalmasse e convencesse a levantar. Monitores, fonoaudiologas, terapeutas, fisioterapeutas, funcionários, e nada. Quanto mais gente em volta dele, mais gritava e esperneava. Eu estava saindo do refeitorio, e fui até o patio pronta para usar o meu método. Estava pensando nisso e preparando-me para pagar o maior mico caso não funcionasse, quando uma antiga funcionária, daquelas que pela sua vivencia e experiência na instituição conhecem muito bem as manhas e truques dos usuários, aproximou-se, e foi logo gritando alto e em bom som, sòmente uma frase:
-- Olha os guardas, olha os guardas!
Ao ouvir isso, como num passe de mágica, o garoto foi levantando rapidinho, parou de gritar, ficou olhando atentamente para o povo todo a sua volta, e calmamente se deixou conduzir pelo monitor para a sua atividade da tarde.

15.4.03

Resistir quem há de?

Ontem á tarde em uma reunião de trabalho, uma pausa para comemorar o aniversário de uma colega. Fechei a boca até ver os colegas todos se deliciando com uma maravilhosa torta de chocolate recheada com fios de ovos e creme de leite. Não resistí, e só não teve repeteco porque não sobrou nada. Agora já sei que não basta fechar a boca tenho que fechar os olhos também. O que os olhos não vêm, a boca não deseja.
Hoje de manhã no meu grupo de estudos o intervalo para descanso e cafézinho, foi para comemorarmos o aniversário de uma colega que estava completando hoje vinte primaveras! Fiquei rezando para que não tivesse torta de chocolate. Não tinha. Mas em compensação tinha um rocambole feito pela avó da aniversariante, apresentado num tabuleiro todo enfeitado, e com dois tipos de recheio: leite condensado e côco. Resistir quem há de? Escolhí com recheio de côco. Teve direito a repeteco, mas não repetí. Palmas para mim porque tava muito bom.
Depois dessas concessões ao prazer da alimentação, ôlho na balança. Voilà.

13.4.03

PICADINHO com mau humor, inteligência preservada, mocréia, balança e etc..

Não estou entendendo patavina de mim mesma. Tá de meno e muito male o meu humor nesses últimos dias. Estou cometendo todos os improprérios verbais e não verbais. Ainda à cause, creio eu, dos efeitos colaterais dos remédios para emagrecer. Parei com o último, o Reductil, essa semana para ver se consigo dormir. Vamos ver que bicho vai dar. Tô me sentindo estranha, estribadaça, parecendo até que cheirei dez carreiras. Já aconteceu de eu chegar em algum lugar, e neguinho ficar me encarando e perguntando se eu estou passando bem. Só me faltava essa...

* * * * * * *
Para completar, a semana no meu trabalho foi daquelas. Começou na segunda-feira, quando iniciada a segunda aula, adentra a minha sala o funcionário trazendo um menino cadeirante que foi integrado à turma desse horário, sem que eu fosse comunicada. Para início de conversa eu não poderia iniciar o atendimento a um portador de deficiência em cadeira de rodas sem antes consultar o seu prontuário, e verificar atentamente todos os diagnosticos médicos, além de uma conversa com a mãe ou responsável, e daí, então começar o meu trabalho. Saia justíssima, mas ainda bem que o menino (doze anos), tendo a inteligência preservada conseguia falar com certa dificuldade, mas conseguimos uma comunicação.
A turminha de seis, todos PPNE (Pessoa Portadora de Necessidades Especiais), entendeu e comportou--se muito bem, foram solidários e carinhosos com o novo colega. E o sorriso de alegria desse menino interagindo a seu modo nas brincadeiras com os colegas compensou tudo. Nunca postei nada aqui sobre as dificuldades enfrentadas com a administração, menos ou tão graves quanto essa, mas agora mudei de idéia.

* * * * * * *
Em compensação, tô me achando... calcei aquele sapato salto altão que há muito eu não usava, e agitei uma produçãozinha básica, caprichando no modelito. Fagueira e toda faceira fui encontrar amigos para irmos dançar na night. Tudo estaria perfeito não fora aquele indigitado mandar esta pérola: Tem mocréia do Ivan na área. O Ivan era um amigo nosso especialista em arranjar as namoradas, digamos, mais estranhas, e de profissões as mais diversas -- de streaper a mulher cabo da marinha. Rodopiei, bailei turva na curva, mas não caí do modelito. Sustentei a pôse.

* * * * * * *
Comprei uma balança, e não é só para decorar o meu banheiro. Todo cuidado é pouco com a tendência a engordar que eu tenho. Depois da grana violenta que eu gastei, e de tudo o que eu passei, e ainda tô passando por causa desse regime, vou levar a sério a vigilância do pêso. Ora, se vou.

* * * * * * *

12.4.03

As palavras de Gandhi

O caminho da paz é o caminho da verdade.
Ser honesto, é ainda mais importante do que ser pacífico. Na verdade, a mentira é a mãe da violência. (...)
Não há um ponto intermediário entre a verdade e a não violência, e a falsidade e a violência de outro. Talvez nunca sejamos fortes o bastante para sermos totalmente não violentos, em pensamentos, palavras e ação. Mas devemos manter a não-violência como nosso objetivo e fazer um progresso constante em sua direção.
A conquista da liberdade, quer seja para um homem, uma nação ou o mundo deve ser na proporção exata da conquista da não-violência. Assim, aqueles que acreditam na não-violência como o único método de alcançar a verdadeira liberdade devem manter a chama da não violência ardendo intensamente no meio das trevas impenetráveis do presente. A verdade de uns poucos vai prevalecer, a inverdade de milhões vai se dissipar, como palha a uma lufada de vento."
"Se não houvesse a ganância, não haveria oportunidade para os armamentos. O princípio da não-violência exige uma completa abstenção da exploração por qualquer forma.
Assim que o espirito de exploração desaparece, os armamentos serão sentidos como um fardo insuportável. O verdadeiro desarmamento não pode ocorrer a menos que as nações do mundo deixem de explorar umas às outras.

(Mahatma Gandhi 1870/1948)

8.4.03

Haja hoje para tanto ontem,
como disse o poeta Paulo Leminski.
E eu ùltimamente não estou me cabendo do tanto de ontem que ficou para hoje.

>>> Minha ex-sogra telefonou no domingo, convidando-me para um almoço na casa dela no dia das mães. Estupefactei. Há mais de cinco anos não nos vemos, e nem nos falamos. E o filho dela está casado com outra. A poderosa matriarca cheia das intenções comigo. Ça va sens dire. Voilà.

>>> Estou podendo usar novamente todas as roupas que eu gostava, e estavam guardadas. Já emagrecí mais de oito quilos. Estou me achando. E isso é ótimo, apesar do ônus que eu estou pagando. Estou em acompanhamento médico desde o início do regime em novembro do ano passado, mas os remédios estão dando efeitos colaterais, e eu não consigo dormir mais de três ou quatro horas por dia. Fico ligadíssima o dia inteiro mesmo sem dormir. Um espanto. Já suspendí dois dos remédios, agora só estou tomando o Reductil, e já fiz vários exames a pedido do médico, e após esses resultados, seja qual for o diagnostico dele, vou no meu clínico para um outro diagnostico e avaliação. Nunca na minha vida tomei remédio para emagrecer, e estou muito cabreira com esse lance.

>>> Tudo ao mesmo tempo agora na minha vida pessoal e profissional. Ontem, numa reunião na Faculdade com a Mestra Angel Vianna, constatamos que o nosso trabalho na FUNLAR vai passar por uma série de exigências burocráticas que até então conseguiamos ir driblando. No próximo mês, a Angel vai renovar o contrato anual com a Prefeitura, e por exigência do pessoal do César Maia, as novas bases contratuais preveem o aumento da nossa carga horária, e há pouquíssimas probablidades de aumento do nosso salário. Péssimo.

>>> Aumento de carga horária é tudo o que eu não quero. Nos dias que eu não trabalho, terças e quintas, eu estudo. Ano passado todo, o curso de bufão com a Mestra Juliana Jardim, na UNIRIO. Continúamos com ela a mesma pesquisa esse ano, desde fevereiro na Fundição Progresso. Agora, começamos a trabalhar com um texto de Ionesco, A cantora careca, dentro das técnicas de bufão para uma possível apresentação em agosto na Fundição. Essa apresentação faz parte de um outro projeto, o qual está esperando aprovação da verba para a sua concretização.
Além disso, às terças e quintas pela manhã, estou participando de um grupo de estudos, com um pessoal que há muito eu quero trabalhar. Estamos estudando e pesquisando o teatro de Henrik Ibsen para uma montagem no próximo ano.

>>> É tanta coisa acontecendo ao mesmo tempo que eu nem sei...
e por hoje é só... ç'est tout.

6.4.03

Se vocês só tivessem um dia a mais para viver, fariam o quê?

Eu acordaria bem cedo pegaria o primeiro avião para Porto Alegre, e iria me despedir da minha Mãe, de toda a minha família e os meus amigos gaúchos, e estaria pegando o avião de volta ao meio dia. Ainda de Porto Alegre, telefonaria ao homem que eu amo fazendo todas as declarações inimagináveis, e marcando o nosso encontro derradeiro. Periga ele não acreditar, e é bem provável que não acredite, pensando que é mais uma armação. Ficaria muito triste, mas conformada, imaginado que ele iria ficar louco da vida, só em pensar que eu o surprendera pela última vez com o maior apronto de todos, do qual, ele não teria a menor chance de revide.

Chegando á tarde no Rio, do aeroporto eu iria direto para o Largo da Carioca. E enfim, teria a ousadia e a coragem suficiente para realizar o meu maior sonho de consumo artístico-cultural-existencial:
uma performance clownesca no Largo da Carioca, disputando público com o Ligeirinho que vende catuaba e dá saltos mortais, com o atleta atirador de facas, com o mágico que transforma uma folha de jornal em nota de cincoenta reais, com o tocador de sanfona, e com toda aquela galera de artistas populares. Sem figurino e maquiage especiais, usando a mesma roupa que eu saíra de casa. Com um detalhe: pés descalços (meu estilo performático) e a ponta do meu nariz pintada com batom vermelho. Como acessório, o meu chapéu coco de feltro preto com uma rosa vermelha plantada no cocoruto, para ser usado na performance, e depois passar ao público no final. Bom demais.

Do Largo da Carioca, faria um passeio clownesco até o calçadão da Rua Uruguaiana com a Sete de Setembro, em frente ao MacDonald's, e com a ajuda dos meninos de rua (daria a eles o que eu arrecadasse passando o chapéu). E desta vez, uma performance só com o uso corporal, sem texto, uma palhaça que se contorce tanto que não consegue voltar ao normal, e vira uma estátua toda retorcida. A estátua vai movimentar sòmente a parte que for tocada -- um leve toque em alguma parte do seu corpo, até ir voltando ao normal. As crianças adoram. Os grandinhos sacaneiam. Ia ser o máximo se encontrasse alguns colegas do curso de bufão na UNIRIO que baixam ali, ou os que fizeram as oficinas e o estagio com o Mestre Dacio Lima (saudosa memória).
Acabada a performance na Uruguaiana, faria outro passeio clownesco até a Av. Rio Branco, torcendo para não encontrar pelo caminho aqueles perigosos confrontos entre guardas e camelôs.

Apanharia um taxi na Rio Branco, seguindo direto para o jornal "O Globo", onde subiria até o quarto andar. Adentraria a redação na performance clownesca intitulada Em busca da autora perdida . Em cada cabine, em cada colega de redação a pergunta seria mais ou menos essa: Onde eu encontro a autora de Um, dois três... já! e Sapomorfose que ganhou o Prêmio Mambembe de Teatro Infantil? Repetições da pergunta, e muitos improvisos pertinentes e impertinentes até encontrar alguém que soubesse a resposta, e me encaminhasse ao Caderno de Informática e à sua editora, e à autora procurada: Cora Rónai! E se ninguém soubesse a resposta, eu teria uma ótima deixa para uma exarcebada improvisação. O ideal seria a performance em cima dos textos, mas como eu não teria tempo pra estudar, inventaria essa, e assim iria me despedir e conhecer pessoalmente, a minha querida amiga blogueira, e posaria ao seu lado, para o InternETC. Sorry, gALLera!

Da redação de O Globo, eu seguiria direto para uma performance na Cinelândia, começando nas escadarias da Câmara com um personagem dramatico, um texto de Zaratustra que eu interpretei na Divina Comedia de Dante Aligheri, dirigida pela diretora e coreografa Regina Miranda, no MAM, em abril de 1992, espetáculo multi-mídia que foi representado nos porões, nos jardins, e todos os outros espaços de exposição do MAM ). Dali o público seria conduzido, ainda dentro da performance, até as escadarias do Teatro Municipal, dando continuação com outros textos, ou o que pintasse de acôrdo com a reação do público. A performance final seria botar o povo todo para cantar e dançar numa grande roda de ciranda, e outras danças populares na praça da Cinelândia, em frente ao Amarelinho. Nessas adjacências, seguramente deveria encontrar alguns dos meus colegas e amigos que viriam participar da roda. E assim acabaria as minhas ultimas vinte e quatro horas, numa grande celebração à vida, à arte e a cultura popular brasileira.

5.4.03

O escritor gaúcho, precursor mundial do teatro do absurdo

QORPO-SANTO, como se auto-denominou José Joaquim de Campos Leão (1829/1883), o genial autor gaúcho que viveu em Alegrete, onde foi vereador e delegado de polícia, e depois em Porto Alegre, no século dezenove, o verdadeiro criador do teatro do absurdo, o precursor do gênero nonsense, cem anos antes do movimento vanguardista europeu disseminado pelo mundo através dos europeus Alfred Jarry, Ionesco, Beckett , considerados até então, os precursores desse movimento.
Na conservadora sociedade gaúcha no início do século dezenove, não é difícil imaginar a estranheza e o escandalo que foi o surgimento desse audacioso autor, detonando todas numa sem cerimonia impressionante, e uma modernidade assustadora para a época. Para citar apenas uma das minhas preferidas, A separação de dois esposos, comédia em três artos, abordando a separação de um casal através de um pacto de morte, morrem abraçados, ambos recitando o mesmo texto:
-- Já que a Terra nos foi ingrata, procuraremos a felicidade no Céu!
E os nomes dos personagens são hilariantes, Esculápio o marido, Farmácia, a esposa, e o namorado da esposa, o Fidélis; as filhas do casal Plinia, Lidia e Idalina; mais dois personagens o Invidividuo e Certo Individuo. E a suprema audácia coloca dois criados da casa, o
Tatu e o Tamanduá, como dois homens casados, fato revelado ao final da peça, em um dialogo louquíssimo desses dois personagens. Com o divorcio e a separação de Tatu e Tamanduá acaba a comédia "A separação dos dois esposos".

José Joaquim de Campos Leão Qorpo Santo, (*Triunfo, 1829 +Porto Alegre 1883) agitou todas. Ativíssimo, foi vereador, delegado de polícia, comerciante, professor e dono de colégio, escritor e dono do periodico A Justiça, onde expôs todas as suas mágoas e feridas. Ninguém mexe com o poder impunemente, e aos trinta e cinco anos no apogeu de sua carreira, foi considerado louco, internado e interditado judicialmente. Recorre e consegue ser mandado para aqui, no Rio de Janeiro, para um novo exame de sanidade na Casa de Saúde Dr. Eiras. Ganha mais essa parada, sendo declarado apto para gozar do seu livre arbitrio.
Com o salvo conduto, retorna a Porto Alegre, à sua familia e a retomadas dos seus bens.
Um mês depois, um juiz de PortoAlegre cismou de pedir um novo exame e dessa vez é reprovado, declarado inapto para gerir sua pessoa e seus bens, tendo de obedecer a imposições do curador, privado do convívio familiar, Qorpo Santo dedica toda a sua energia às atividades literárias. Aos cincoenta teve a sua doença agravada -- tuberculose pulmonar, e morre aos cincoenta anos.

Nem depois de morto, Qorpo-Santo foi poupado. Falavam dele como um mito, um doido que havia escrito poesias de doido. A verdade é que ninguém se ocupou, a sério, de suas peças. Com o Movimento Modernista ele voltou á tona, servindo aos contrários à Semana de Arte Moderna, e nada melhor para esses trevosos, do que transcrever alguns maus versos de QorpoSanto para compará-los aos de Oswald e Mário de Andrade, também considerados malucos como ele.
Depois disso, sumiram das bibliotecas e arquivos do Estado do Rio Grande do Sul e do País, todos os textos da autoria de Qorpo Santo. Essa foi a constatação do Professor Guilhermino Cesar quando escreveu A historia da literatura do Rio Grande do Sul em 1956. Alguns anos depois, o Professor Guilhermino encontrou o pesquisador e professor Anibal Damasceno que vai clarear a busca, fornecendo novas e importantes pistas de Qorpo Santo, até chegar à publicação e divulgação das obras completas do teatro de Qorpo-Santo.

A primeira montagem de Qorpo Santo, no mundo, foi realizada por alunos formados Instituto de Arte Dramática da UFRGS, três peças Matheus e Matheusa, Hoje sou um: e amanhã outro e Relações Naturais , dirigidas por Antonio Carlos Sena. Esse espetáculo veio ao Rio, em 1968 para participar do V Festival Nacional de Teatro de Estudantes, realizado pelo Paschoal Carlos Magno. Uma atriz gaúcha morando no Rio, agitou uma apresentação extra festival para convidados especiais. Num pequeno teatro, á meia noite, em precaríssimas condições técnicas, o espetáculo foi um sucesso. Televisões, radios, jornais deram a maior cobertura a um dos mais importante acontecimentos artísticos da década.
Vale a pena citar aqui alguns trechos do comentário de Yan Michalski, (saudosa memória) do Jornal do Brasil:
A julgar pela mostra apresentada, a descoberta de Qorpo Santo é um acontecimento de notável importância, que, não só torna parcialmente obsoletos todos os livros de hitoria da dramaturgia brasileira, que não mencionam a sua obra, como também transcende as fronteiras do Brasil e merece ser estudado dentro de um contexto internacional: o autor gaúcho é, muito provàvelmente, o primeiro precursor mundial do teatro do absurdo, uma vez que algumas décadas antes de Alfrfed Jarry ele colocava em prática idéias de antiteatro baseado no mais violento nonsense, algumas das quais dignas de fazer inveja ao próprio Ionesco e aos seus seguidores.

A precocidade, o modernismo, a ousadia de Qorpo Santo são verdadeiramente fenomenais, se considerarmos a época em que ele escrevia as suas peças e o ambiente em que vivia. Seria errado, considerá-loi apenas sob esse ponto de vista. O mais importante é a quaçidade intrínseca de suas peças, o seu espantoso instinto cênico, a sua fantástica imaginação, e a lucidez com a qual, dentro do mais delirante clima de aparente loucura, ele desfecha impedosos golpes contra alguns dos aspectos mais rançosos do seu meio ambiente. Digno de nota é também a eficiência do seu humor. Qorpo Santo mantém a platéia num quase permanente estado de hilaridade, que não exclui, bem entendido, uma reflexão crítica, nem impede que de vez em quando um misteriosos vento de trágica ameaça sopre na platéia, e nos faça pensar em Beckett e Pinter
.
Dialogo da dentadura debaixo com a dentadura de cima
Da lavra e autoria do ABSURDO MATUSALÉM MATUSCA.

Cheguei na idade em que nunca se sabe se estamos dormindo e tendo sonhos malucos ou acordados pensando maluquices, o que dá no mesmo.
Devia estar dormindo, de outra maneira elas não poderiam ficar com esse papo todo no copo.

Dentadura de cima: - Faz um tempão que não como carne.

Dentadura de baixo: - Nem eu!

De cima: - A gente podia parar de brigar, não?

De baixo: - É, vamos sair juntas outra vez?

De cima: - Vamos sim, dá um beijinho.

De baixo: - Na boca?


UPDATE: Qualquer semelhança com diálogos de alguma comédia de Qorpo Santo, não é mera coincidência. Estou sèriamente desconfiada que o nosso vizinho blogueiro, o Matusalém Matusca é o "cavalo" daquele gaúcho louco e genial que viveu no século dezenove, considerado o verdadeiro pai do teatro do absurdo.
Desconhecido no Brasil até o início do século vinte, quando surgiu o movimento de teatro da absurdo na Europa através de Alfred Jarry, Eugène Ionesco e Samuel Beckett, as peças de Qorpo Santo foram lidas na Semana de Arte Moderna em 1922, dando subsídios aos detratores da Semana. Depois disso, foi completamente esquecido até a década de sessenta, quando foi redescoberto pelo Professor Guilhermino César da UFRGS e pelo pesquisador Anibal Damasceno.