29.11.01

Tony Tornado em Hamlet

Olha ai quem vai aparecer numa leitura dramatizada de "Hamlet" no Teatro Gloria, na segunda-feira, dia 3, `as 20 hs., ele, o famoso cantor e agora ator, Tony Tornado, e mais um elenco de primeirissima, a Lea Garcia -- a maravilhosa atriz negra da primeira versao cinematografica de "Orfeu", a otima atriz e cantora Maria Ceiça, o Haroldo de Oliveira, Kadu Carneiro, Deo Garcez entre outros atores, todos negros. A direçao e´do Vava´ Carvalho.
Esta leitura marca o inicio das atividades da Companhia de Teatro do Negro. Dou a maior força! Ah, e vale lembrar aqui que a Lea Garcia foi casada com o Abdias do Nascimento, que criou a primeira companhia teatral so´com atores negros, o TEATRO EXPERIMENTAL DO NEGRO, no final dos anos 40, e que teve uma grande repercussao na epoca.

28.11.01

Obsessões de Nelson Rodrigues, Filho

Fui assistir e não gostei de uma seleção de cronicas de "A vida como ela é", de Nelson Rodrigues, adaptadas para o teatro num espetáculo dirgido pelo filho do autor, no Teatro Glaucio Gil. Patrícios, Palhares e outros personagens rodrigueanos de plantão, devem ter cochichado em seu ouvido, e de cochicho em cochicho, ele acreditou que era diretor, adaptador, ator e produtor teatral. E tudo isso, na melhor das intenções, como ele fala lá no programa da peça "sob a ótica de quem conviveu e vivenciou seus momentos da criação (...) imagens da minha infância e adolescência, quando observava o Velho nas suas rotinas de trabalho, e que agora , se materializam no palco". Pensou que ser o filho do Nelson Rodrigues bastaria. Apesar de todos os equívocos deste espetáculo, o texto é mais forte, e supera quasi todas as atrocidades cometidas. Mesmo quando o filho está no palco, fazendo o papel do narrador.

OBSESSÕES, é o segundo espetaculo da trilogia que começou com BEIJOS, e que finaliza com FUTEBOL-PAIXÃO. Não passarei nem na porta do teatro para evitar sofrimentos.
Do elenco, se destacam como podem, a Maria Pompeu, o Evandro Melo e dois jovens atores que eu não conhecia, a Patricia Gordo e o Mateus Sartori. Nem o Aurelio de Simoni, escapa. A iluminação deste espetáculo, compromete a sua brilhante trajetoria profissional, com muitos prêmios e distinções.

Saí do Glaucio Gil, numa angústia tremenda, porque eu quisera ter assistido um espetáculo a altura do maior dramaturgo brasileiro de todos os tempos. O teatro brasileiro tem duas fases distintas: antes e depois de Nelson Rodrigues -- um classico, um moderno, um primitivo, um tragicomico, tudo isso num só autor. Tudo isso e muito mais. Daqui a cem anos, estaremos reverenciando o nosso Shakespeare: Nelson Rodrigues.
Acontecencias especiais na vida desta blogueira, deixaram o blog sem uma única postagem desde sexta feira. E o motivo principal foi a visita de parentes do Sul que ficaram hospedados aqui em casa no final de semana. Tinha uma porção de coisas para postar aqui, mas hoje não dá mais. Tenho que acordar cedo amanhã. E ainda tô meio boba de deveras, tontas e tantas coisas in my life. I don´t believe !

24.11.01

MOMENTOS DE NELSON RODRIGUES --OBSESSÕES

Tenho dito obsessivamente, que sou uma flor da obsessão. Ora, uma coisa muito repetida vai perdendo a solenidade inicial e tornando-se humorística. Amigos meus já me saúdam assim:

-- Olá, flor da obsessão, como vai?

--Vou indo. Estou caprichando.

23.11.01

Parfois le jeudi...

Acabando de chegar da festa de lançamento do Calendario Abayomi 2002, produzido pela Cooperativa Abayomi, uma associação de mulheres artesãs que confeccionam aquelas famosas bonecas negras de pano, sem cola ou costura. A festa foi no prédio da esquina vizinho à sede da Abayomi, lá em Santa, com direito a uma apresentação do Cordão do Boitatá, e aquelas performances de canto e dança das meninas Abayomi. E sempre que esse povo se apresenta, acaba numa celebração à música e à dança popular brasileira. Bom demais.

De Santa, fui para uma festa de "mudernos", na MOD, à Rua das Laranjeiras n. 363 , para o lançamento de verão de André Camacho, o estilista de Nova Iguaçu, novo " darling" da moda carioca. A loja é uma mistura de moda, artes plasticas, musica, video instalação, mais vitrine inspirada em Duchamp, feita pela Mara Martins (mix de artista plastica e bailarina, integrou o nosso grupo de dança contemporânea "Profissionais Liberados", lá na Angel). A vitrine-instalação exibia um vestido de noiva muito louco, todo preto em tule, bordado com andorinhas vermelhas, criação do estilista mineiro Ronaldo Fraga. E mais a inauguração de uma instalação de Bet Olival -uma cortina imensa de veludo preto com símbolos fálicos. Tudo isso, não fora a proprietária do MOD, a artista plastica Elena Pazzuelo.
No coquetel, um mojitos divino.

21.11.01

E agora, o momento poético com FERNANDO PESSOA, em Tenho tanto sentimento, do livro "Encantos e Paixões".


Tenho tanto sentimento
Que é freqüente persuadir-me
De que sou sentimental,
Mas reconheço, ao medir-me,
Que tudo isso é pensamento,
Que não senti afinal.

Temos, todos que vivemos,
Uma vida que é vivida
E outra vida que é pensada,
E a única vida que temos
É essa que é dividida
Entre a verdadeira e a errada.

Qual porém é a verdadeira
E qual errada, ninguém
Nos saberá explicar;
E vivemos de maneira
Que a vida que a gente tem
É a que tem que pensar.

Este poema , foi um presente enviado por e-mail pelo meu amigo ELOY ARAÚJO, ator, diretor e autor teatral. Ele acaba de voltar de Portugal, muito faceiro e fagueiro com a repercussão de TANGO, BOLERO E CHACHA , peça de sua autoria que se apresentou em terras lusitanas com grande sucesso de público e de crítica. Ele conta que lá como aqui, a mídia que funcionou foi a famosa boca-a-boca.
Pisando em braza na Barra

Sexta agora, dia 23, às 22 hs. no Bar e Restaurante BOCA DE CENA, local bem manjado na Barra - fica perto da Lagoa, perto do Biruta, numa ruazinha que vai dar num shopping - vai ter uma única apresentação do PISANDO EM BRAZA, conjunto de chôro liderado pelo nosso professor de música, o Jorge, e outras feras da Escola de Música da UFRJ. Imperdível. Já falei neles aqui.

20.11.01

Chaves for ever

Não assisto televisão. Exceção para alguns programas especiais, tipo o Chaves & Companhia que eu adoro. Pena que só posso assistir nos dias feriados, porque passa aqui no SBT as duas e meia da tarde, ou o outro programa dele, o Chavéco que passa aos sábados, a uma e meia da tarde. Eles são ótimos comediantes, naquela linha clown no jôgo do ator. Sou fã de carteirinha dessa turma, e graças ao feriado de hoje eu pude assistir. Vou começar a gravar os programas, antes que o Sr. Abravanel tire do ar, como aconteceu com o Chapolim.

Qual é a do Supla?

Depois, assistí um programa na Band (acho que era da Sonia Abrahão) que entrevistava os assessores do programa "Club dos Artistas" , contando os bastidores das gravações, mostrando cenas inteiras do programa, e parei para ver. Nunca tinha assistido. Não entendí nada, e entendí muito menos o que faz o Supla naquele programa. Tem uma hora lá que ele fala que é independente, que gravou o seu disco, e coisa e tal, e que não tá afim da grana do programa. Então porque está lá pagando aqueles micos todos? Aliás, além do Supla e do meigo Alexandre, eu não conheço e nunca ouví falar dos outros.

Gerson King Combo

Mudei de canal e fui para a TVE. No "Sem Censura", a Leda Nagle ouvia embevecida as histórias do famoso cantor Gerson King Combo, que arrasou nos anos 70 como cantor de rap, viajou pelo mundo divulgando a música brasileira, ganhou muita grana e torrou tudo o que ganhou. Foi a estrela absoluta do programa que participava também o ator Raul Cortez, também completamente fascinado com as historias do Combo que revelou ser também Cortez no sobrenome.
O cidadão Gerson Rodrigues Cortez, é nosso colega de trabalho lá na FUNLAR. Eu não o conhecia, até o dia em que ele adentra a minha sala na maior desenvoltura, acompanhado de um reporter e de um fotografo, para tirar fotos com as crianças, na maior camaradagem com elas, e sabia o nome de todas. O meu segundo contato com ele foi para dizer que o Sergio Faria - vizinho blogueiro do Catarroverde - estava veiculando o seu nome e seus feitos pela Internet. Ele ficou todo contente com a notícia, e desde esse dia, ele me cumprimenta muito afetosamente. Ele é encontrado sempre nas festas da FUNLAR, onde ele é o apresentador oficial, (tem um vozeirão!), e pelos corredores, pelo pátio, pelas rampas, e sempre cercado por um bando de mulheres que monopolizam a sua atenção.


19.11.01

Não levar na flauta

Quando eu comecei a estudar flauta, tirava de ouvido e mandava legal. E agora com o pentagrama aqui na minha frente, não passo das primeiras frases. Nem Asa Branca, a primeira música que eu aprendí a tocar, eu consigo ir até o fim. Estou repassando todos os primeiros exercícios. É o jeito. Preciso administrar melhor o meu tempo, e conseguir estudar mais vezes na semana. Voilà.

São danças nossas, são coisas nossas

O samba, a prontidão e outras bossas são coisas nossas, já cantava o Noel Rosa, numas de alertar para a valorização das nossas raízes culturais. Lembrei dele agora, porque não sem tempo, a professora titular de danças sagradas, hoje passou as nossas danças sagradas. Dançamos desde ciranda, maracatu, carangola, e até o xote carreirinha, lá da minha terra, além de repassar as danças indígenas que aprendemos com a Valéria. Dançei que me acabei. E me comportei muito bem. Isto quer dizer, que a titular não precisou ficar pegando no meu pé.





18.11.01

Manhas da classe

Algumas pessoas da classe teatral e a dos contemporâneos (bailarinos de dança contemporânea), estão antenadissimas para o que eu posto sobre a classe aqui no meu blog. E muito mais do que eu pensava. Pelos e-mails, e alguns toques que eu recebí pessoalmente, tem muitas expectativas não correspondidas aqui neste espaço. Esse lance mexeu comigo.

O meu blog não tem a pretensão, nunca teve, em tempo algum, de fazer crítica ou divulgação de espetáculos. Ele é uma espécie de diario on-line, e como tal, eu faço apenas comentários da minha vivência artístico-cultural, sem nenhum compromisso, a não ser comigo mesma. (Comigo mesma? Nem sei se o meu português tá certo. Voilà.) Simples assim. Por esse motivo, o comentário que eu faço pessoalmente para um bailarino ou ator, não vou necessariamente postar aqui. Certo?







Enfim, funcionou o "Comments". Agora podem deixar aqui o seu comentário. Por favor, comentem...
Este blog não me obedece. Nem a tapa. Agora posta quando quer, e escreve em itálico, quando não peço. Assim não dá.

17.11.01

Fabio Lanceiro

Através do Internetc da Super Cora Rónai que sempre dá dicas de blogs interessantes, eu cheguei
no FABIO FERNANDES, jornalista, tradutor e escritor. Ele é o editor do primeiro e único blog, dedicado à literatura, o Lanceiro Livros, constantemente atualizado, com resenhas críticas dos últimos lançamentos das melhores editoras, como o da Editora 34 que acaba de lançar uma biografia do Jackson do Pandeiro, que eu fiquei afim de comprar.

E no outro blog, o Lanceiro Livre ele dá a sua opinião sobre assuntos da atualidade, comentários do seu cotidiano, cinema, teatro (com uma apreciável cultura teatral), e até notícias de uma oficina teatral do Grupo Armazém. Ele tem um estilo que me agrada muito. Já está entre as minhas visitas obrigatórias. A vizinhança blogueira tem disso, dessas descobertas de pessoas que nos identificamos de imediato, parecendo que somos velhos amigos de outras paradas. Declaro envaidecida, que ele visita o meu blog, e o colocou nos Blogs Bacanas, lá no Lanceiro Livre.

"Os blogs são crianças -- eles têm muito que caminhar e nós com eles. Nós blogueiros, ainda vamos escrever uma boa parte da história da WEB -- e, desconfio, a mais divertida!". Esta, eu tirei lá do Lanceiro Livre. E tem mais reflexões do Fabio numa matéria sobre blogs, na Mídia Interativa do Itaú Cultural, aqui.

16.11.01

O correr da vida embrulha tudo.

A vida é assim:

esquenta e esfria,

aperta e daí afrouxa,

sossega e depois desinqueta

o que ela quer da gente é coragem.

Assim versou Um Chamado João - o Guimarães Rosa.

15.11.01

Este é um País Surrealista. E bota surrealismo nisso. Tem que fazer campanha para o povo não jogar dinheiro fóra, ou deixar esquecido em algum lugar. Não aguento mais ouvir a propaganda daquela campanha institucional: "não deixe suas moedinhas esquecidas na gaveta". E não é só a classe média, ou as outras, mas um pedinte na rua, se você der um real em moedas, ele vai fazer uma cara em branco, mas se você der uma nota de um real, a cara é outra.
Esta história do alemão que é dono do canto do uirapuru, foi contada pela Valéria - pesquisadora da cultura indígena e danças indígenas, que trabalha com o Kaka Wera.
Falando na Valéria, ela voltou nesta segunda-feira, a convite da professora titular de danças sagradas, para dar por escrito as coreografias e os cantos indígenas que vivenciamos com ela há um mês atrás, conforme já postei aqui. As aulas da Valéria, são muito mais que um repasse de conhecimentos. Ela consegue transformar uma simples aula, num ato de celebração.
O dono do canto do uirapuru

Tetê Espindola, passou seis mêses embrenhada na floresta matogrossense, pesquisando os sons dos pássaros, num trabalho para o seu novo disco. Seu maior desafio: gravar o canto do uirapuru. Ele é o único pássaro que imita o canto dos outros pássaros, e só aparece uma ou duas vezes por ano. Ela já estava quasi terminando a pesquisa, e nada de aparecer o uirapuru. E lá quasi nos ultimos dias, ela vai pra a floresta e como fazia sempre, começa a cantar. E de repente, o seu canto é imitado á perfeição. E oh , bendita surpresa, estava finalmente, depois de mêses de espera, gravando o canto do uirapuru.

Missão cumprida, volta e começa os preparativos para o disco. E um inesperado impecilho, paralisou o seu projeto. Não poderia gravar o disco com o canto do uirapuru, sem a autorização de alguém que registrara o canto, e cobrava royalties pela utilização do canto do uirapuru. O autor da façanha: um alemão que não mora no Brasil, veio aqui, conseguiu gravar, e agora é o dono do canto do uirapuru. Isto é Brasil.

14.11.01

Meu aluno de francês

--Bonjour Madame ! Comment ça vas ?
--Bien, et toi Marcel?
--Très bien, Madame. Regardez le soleil!

Este foi o dialogo hoje de manhã cedo, na portaria do prédio com o meu aluno de francês - o Marcelo, gente finíssima , "doublé" de porteiro e serviços gerais do prédio. Eu comecei ensinando há algum tempo atrás, algumas palavras a pedido dele, e eu fui me entusiasmando porque ele leva jeito, e fui ensinando o básico. E toda a vez que eu o encontro há sempre uma saudação em francês.

É inenarrável, ver aquele baita negão fazendo todas as caras e boquinhas que tem direito na pronuncia de francês. Não é afeminado, não. As mães das adolescentes que o digam. Ficam bem espertas quando ele está por perto, e principalmente, quando cumprimenta em francês, as menininhas.






12.11.01

Parfois le lundi...

--Quem é essa doutora ? Olhem aí o meu filho todo rasgado. Me disseram que ele ia para uma terapia com dança. Que dança é essa? O que é isso ? Não quero meu filho nesse troço.

Este texto acima, era falado alto pelos corredores por uma mãe de excepcional, vindo em direção à minha sala, hoje de manhã. Acontece que o filho dela se atracou com outro na minha aula, nesses arroubos de garotos adolescentes, rasgando a camiseta de malha, na gola e no ombro. Aliás não rasgou, descosturou. Ele tem dez anos e o outro tem treze. Foi só isso. Nada que merecesse tamanho estardalhaço.

Conversei longamente com ela , e parece que a convencí que o filho não se metera em briga, como ela pensara. Foi um papo dífícil porque eu tive que ouvir muita impropriedade, e com a toda a calma que eu conseguí reunir para um momento tão difícil.

Mãe de excepcional é uma instituição. Ah, e eu não sou doutora, mas é assim que as mães nos chamam também. Porque o nosso entendimento é em conjunto com psicologo, fonodiaulogo, ortopedista e outros profissionais.
Ikswalsinats, Staccato e Ana Vitória

"Mildred Mildred" foi o espetáculo da dupla Frederico Paredes e do Gustavo Ciríaco, da Dupla de Dança Ikswalsinats, ( agora com uma terceira integrante, a Luciana Fróes) que inspirado em Magritte, em suas oposições de forma e sentido, apresentando um humor que vai do absurdo, poético e ludico. Acompanho a dupla desde a sua formação nas primeiras apresentações lá na Escola, há seis anos, e dá uma grande alegria acompanhar a evolução do trabalho desses meninos.

"Palimpsesto" foi uma pequena mostra (dezoito minutos) do novo trabalho da Staccato Companhia de Dança, do Paulo Caldas e da Maria Alice Poppe, professores da Escola Angel Vianna, e premiados em vários festivais internacionais de dança. Eles são acompanhados por música ao vivo, especialmente composta pelo Felipe Rocha. Eu assisti só cinco minutos finais do trabalho, porque dei bobeira na fila do Café, no segundo andar. Sou fã da dupla. Maria Alice, então, além da técnica perfeita, passa a maior emoção.

"Asè" da Cia. Ana Vitória, da coreógrafa baiana radicada no Rio, apresentou um trabalho baseado numa pesquisa sobre os rituais da mitologia iorubá. O estudo dos movimentos das danças rituais dentro do contemporâneo, sem perder a essência do movimento original que sobrevive há séculos. Era a voz corrente que este é o trabalho mais maduro da Companhia. Lindo e emocionante.

11.11.01

Artimanhas no Teatro C. Gomes

Ontem, no Carlos Gomes, penúltimo dia do l0 Panorama Rio Arte de Dança, foi uma batalha para conseguir entrar. Os ingressos estavam esgotados desde cedo. Filas para comprar com antecedencia para hoje. O jeito, foi esperar alguém vendendo uma sobra, ou alguém esperado que não apareceu. Nesse agito todo, o porteiro implicou comigo, dizendo que eu não podia ficar ali na frente da porta, atrapalhando a entrada. Saí de fininho, porque nessas horas, eu fico muito abusada, e perco um pouco a noção dos meus limites, e da boa educação.

Lá pelas tantas, as filas acabaram, o povo todo com ingresso entrou, e nós ali, sentados na escadaria com cara de idiotas. O meu amigo desanimado já pensava em desistir. Eu jamais iria desistir, e justo na apresentação do pessoal da Escola. Olhei para o lado oposto à bilheteria, e ví o balcão da organização que já estava sendo fechado, fui até lá, e usei a velha artimanha posta em prática nessas ocasiões, e mandei esta, com a maior fé cênica:
-- Tem um convite aí no nome de Ruth Mezeck ?
Rápida olhada em uma imensa lista. Não encontra o meu nome, claro. Passa para outra lista. E eu, rapidinho, antes que ela diga não, acrescento o seguinte texto:
-- Sou professora da Escola Angel Vianna. Ela percorre os nomes, rápida, volta-se pra mim, e pergunta:
-- Quantos ingressos ?
E eu, rapidinha:
-- Dois.
Ela destaca dois ingressos, e lá fomos nós, felizes como pinto no lixo, sentar na oitava fila da platéia, e esperar o espetáculo começar.


Enfim, encontro alguém do meio que sabe o que é um blog e blogueiro. Hoje no Teatro C. Gomes, encontrei o Eduardo que foi meu colega no curso livre de conscientização corporal na Angel há alguns anos atrás. Na época, ele era músico, e tinha uma banda. Hoje, ele é programador de computador, e é daquela galera que se amarra no Linux, tem um site e está num ambiciosíssimo projeto - o de salvar o mundo. Preciso visitar urgente o site dele. Bem,o Eduardo tem uma amiga blogueira.

9.11.01

Kafka for ever

Antigamente , não podia entender porque minhas perguntas ficavam sem resposta; hoje, não posso entender como é que pensei ter a capacidade de perguntar. Na verdade, eu realmente não pensava: eu apenas perguntava

Inspirada no Sr. K - o homem que faz do seu blog, um castelo - eu postei esse aforisma do Franz Kafka. Obrigada Serjones por mais esta valiosa indicação.

8.11.01

Momento Breguíce Explícita

Paguei o mó mico, ontem no Teatro Carlos Gomes. Por puro deslumbramento e breguice. Só de lembrar, quasi morro de vergonha. Voilà. Sou brega sim, mas também sou chique. Os preparativos para a noite, começaram cedo, quando passei na loja de flores, e mandei entregar no Carlos Gomes, a mais linda corbeille de rosas (aquela cor de rosa chá). E às sete e meia, chegava eu para enfrentar a quilometrica fila da bilheteria.

Ingresso garantido, lá vou eu cumprimentar os amigos e conhecidos. A classe de bailarinos de A a Z ,toda lá. O povo da Angel, não faltava ninguém. E eu, imbuida pelo espirito mais brega, cafona e deslumbrado que há em mim, entrei numas de fazer propaganda do grupo, e alardear para todo mundo, o seguinte texto que eu saí repetindo para quem eu encontrasse pela minha frente, antes de começar o espetáculo:

-- Foi com À Fleur de Peau que eu estudei em Paris. São meus Mestres. Vocês vão gostar. É o que há de mais revolucionário em dança contemporanea na Europa. Mistura de dança-teatro-mímica...

Denise e Michel em grande forma, com pleno domínio da técnica, uma apurada pesquisa de movimentos com cenas do cotidiano, brincam com alguns clichês de comportamento, e também com os conhecidos clichês da própria dança contemporânea. O mais comovente deste espetáculo, é a simplicidade com que eles transmitem idéias, as mais sofisticadas, e com a maior elaboração técnica, de uma forma simples e direta, sem os conhecidos hermetismos que marcam os trabalhos do gênero. Poesia pura, lirismo e muito humor. Agradaram em cheio, o publico dos mais seletos -- a própria classe de dança.

Quanto a esta escriba, se antes de começar o espetáculo estava exibidíssima, imaginem depois do sucesso da apresentação. Só dava eu no foyer , agora com outro texto :

-- Ótimos, não ? Meus Mestres, claro. Estudei com eles...

Fomos em fila aos bastidores para os cumprimentos depois do espetáculo. Entrei na fila para cumprimentar a Denise, e avistei ao longe o Michel, e corrí para falar com ele. E idiota que eu sou, falando em português. Claro que ele não entendeu nada, fez uma cara de espanto, e secamente só dizia obrrigadô.

Voltei arrasada para a fila, convencida que ele não lembrara de mim. Depois, no final, ele falou que ficou em dúvida se era eu mesmo, só porque eu falei o tempo todo em português, e ele não entendeu nada. Eles estavam contentes com a recepção do público ao espetáculo. Pena que eles viajaram hoje de manhã cedo para São Paulo. Agora só nos veremos em Paris. Quando? Nem Deus sabe.

À FLEUR DE PEAU EM SÃO PAULO

Antes de voltar a Paris, vão se apresentar dia 10 em São Carlos, no TEATRO DO SESC, e dia 17 no TEATRO MUNICIPAL, em Araraquara.
Pisando em braza

Terça-feira, depois da aula na Angel e da postagem do dia aqui no blog, deitei para descansar uma meia hora, porque eu deveria sair às oito horas da noite. E não é que eu fui acordar duas horas depois, às oito e meia. Saltei da cama, agitei aquela produção básica, e saí para a naite, em direção a um bar e restaraurante chamado PÉ QUENTE, na Tijuca, numa ruazinha escondida, e que eu tinha uma vaguíssima idéia onde se localizava. E os deuses da música (eles existem) me conduziram, e acabei chegando lá sem me perder, e não chegar muito atrasada para o show do Jorge -- nosso professor de música -- e o seu conjunto de chôro, o PISANDO EM BRAZA que estavam dando uma canja lá nesse bar.

PISANDO EM BRAZA, guardem bem esse nome porque vale uma ida a qualquer lugar onde eles estejam tocando. O grupo foi criado no início deste ano, e desde então, vem se apresentando em bares e outros espaços alternativos. Tudo fera. A maioria da Escola de Músida UFRJ, é formado pelos músicos JORGE (flauta transversa e percussão), BIRA (violão), GUILHERME DO CAVACO, (cavaquinho, ele tem apenas dezessete anos de vida, e parece que tem cem só de cavaco ) e o LUIZ FERNANDO (pandeiro). E teve mais dois alunos da Escola de Musica da UFRJ, dando uma canja, o PAULO CESAR, tocando um instrumento de percussão chamado vanderk, e a CAMILA, mandando na flauta transversa um chorinho da sua autoria, que alguém não avisado pensaria ser de Ernesto Nazareth. O Pisando em braza, além de composições próprias, passou quasi todos os clássicos, de Jacó, Pixinguinha, Chiquinha Gonzaga, etc . Foi um presente. Uma verdadeira aula, e deu vontade de sair de lá e estudar muito -- era a voz corrente entre nós, os alunos do Jorge. Gostei de ver a nossa turma reunida lá. Foi a primeira vez, que nos reunimos numa social. Adorei.

Hell´s Angels no Pé Quente

Na saída, uma surprêsa. Saimos de um ambiente com clima de chorinho, valsa, Rio Antigo (na parte de cima do sobrado antigo e cheio de charme, onde fica o palco), e descendo as escadas, l´ambience, diferia completamente. Parecia que estávamos naqueles locais mostrados pelos filmes americanos. Uma bandeira preta, enorne, com as iniciais bordadas (distintivos ou sei lá o quê) dos Hell´s Angels tupiniquins marcava o territorio. A varanda, estava repleta com mais de 40 ou 50 motoqueiros, com aquelas roupas de couro pretas, medalhões, correntes prateadas, cabelões e aquelas caras de bad boys. Detalhe: uma única mulher entre eles, comportadamente sentada quasi na ponta da mesa, e vestida toda de jeans.

Um grandalhão, em pé, falando alto e gesticulando muito, parecendo disposto a partir para uma briga a qualquer momento, Enquanto ele falava, outro também alterado berrou "é mentira, deles". Enquanto isso, outro levantou, e aparteava: "ele está falando, ele está falndo, é ele quem fala..." Hum...
Fomos saindo de fininho, passando pela varanda, sem olhar para eles. Mesmo assim, deram uma pausa, e uma ligeira encarada para o nosso lado. Esse povo é desconfiado ...

Na rua, estacionadas lado a lado, um mar de motos. Das mais simplezinhas, às mais incrementadas, todas pretas, Deveria ter também aquela famosa, a Davison (é assim que se escreve?), e a exceção, era uma moto pintada de cor de rosa com laranja, toda psicodelica á moda dos anos 70. E isto me reportou aos anos 80, no Circo Voador, quando o famoso cantor de rock que foi amigo da Janis Joplin, o SERGUEI, deu um show lá, e foi escoltado até o Voador pelos Hell´s Angels da época, e carregado apoteòticamente até o palco pelos mais belos espécimes dessa tribo. Esta não teve preço. Inesquecível !

Perguntei ao guardador de carros, se essa galera ia sempre lá, ao que ele respondeu:
- Esses hipies tem uma reunião aí toda primeira terça do mês, depois das dez, eles tão aí. Um deles, é parente do dono.




6.11.01

À fleur de Peau, chega ao Rio

Postei aqui no meu blog, dia 8 de setembro, Uma experiência de corpo sem órgãos, o relato de uma experiência artística no meu primeiro dia de aula --em Paris -- com a companhia de dança À FLEUR DE PEAU. A companhia sediada em Paris, foi criada em 1986 pelo bailarino e ator alemão MICHAEL BUGDAHN e pela bailarina paulista DENISE NAMURA. A partir de um trabalho de pesquisa a meio caminho entre a dança e o teatro, é considerada uma das mais importantes da dança contemporânea européia, e uma das mais bem sucedidas do circuito internacional de dança, com apoio do govêrno francês, e participação nos mais importantes festivais de dança na Europa e na América.

Amanhã, quarta feira, dia 7, às 20 hs. no TEATRO CARLOS GOMES, a Compagnie À Fleur de Peau vai se apresentar no " 10 Panorama Rio Arte de Dança " , com o espetáculo "RÉTROSPECTIVE" - uma sucessão de duetos tirados de várias criações da companhia, numa significativa mostra da linguagem única entre absurdo e lirismo desenvolvida pelo grupo.

Na minha opinião, absolutamente imperdível para qualquer tipo de público. Acompanho todos os anos, o "Panorama", mas nesta décima edição, só vou ver este espetáculo, amanhã, e no sábado , também no Carlos Gomes, a apresentação do pessoal da Faculdade e Escola Angel Vianna, o Paulo Caldas e Maria Alice e a dupla Ikswalsinats -- o Fred e o Gustavo.

5.11.01

Dança e HTML

Errei sim. Aqui lado esquerdo deste blog, eu postei dansa ao invés de dança. O impecável está sem acento. E sabem porque ? Culpa da minha incompetência com a tal da linguagem HTML. Entre postar errado e não postar, preferí a primeira opção. Já estou providenciando a correção. Recebí algumas sugestões de blogamigos, e vou tentar corrigir. Estou adiando a decisão porque ainda não me refiz do trauma que foi mexer nos tais de templates, quando este blog ficou uma semana fora do ar. Voilà.

Devo declarar que eu fiquei comovida com a delicadeza e o cuidado com que algumas pessoas sinalizaram por e-mail, o meu êrro. Valeu.

4.11.01

Super Maria

Ah, esquecí, mas lembrei a tempo (esta ela não iria perdoar) de outra atividade da Super Maria : professora. Ela dá aulas, conferencias para professores de segundo grau, dentro do Projeto Proler( ou coisa parecida) pelo Brasil inteiro, e na Casa de Leitura, em Laranjeiras. Faz isso nas horas vagas.

Além disso, tem um grupo de contação de histórias, o "Grupo Repertorio", atualmente se apresentando pelas bibliotecas do Rio, dizendo poemas de Cecilia Meireles. Ela reclamou que eu fui a única dos amigos que ainda não foi ver. Bem, que eu gostaria, mas os horários das apresentações são incompatíveis com os meus horários.

Além disso, está trabalhando como atriz, em dois espetáculos em cartaz : Obsessões de Nelson Rodrigues, encabeçando o elenco dirigido pelo N.Rodrigues Filho, de quinta a domingo às 21 hs no TEATRO GLAUCIO GIL, (este eu não ví, ainda, mas fica em cartaz até o dia 25), e as terças e quartas às 19hs. no TEATRO ZIEMBINSKI, produz e interpreta
amor feminino plural. Levei uma decisão. Se eu não fosse na segunda feira, à estreia deste espetaculo e à festa de aniversário, ela não me consideraria mais sua amiga "no máximo, conhecida de alguns anos". Isto é Maria! E por falar no Nelson Rodrigues Filho, ele também estava na festa acompanhado de seu séquito, e muito animadinho - coisa rara nele. Deve ser porque agora é candidato, e já está em campanha. Ele engordou, e com aquela imensa barba branca, está cada vez mais parecido com aqueles profetas do Rafael. Tinha um integrante do séquito, fazendo propaganda da candidatura dele, e pedindo votos. Hum...

Além disso, dessas atividades todas como atriz, produtora,professora e contadora de histórias, faz traduções de peças teatrais. Dirigiu por vários anos, o Ciclo de Leituras do IBEU. Traduzia, dirigia, coordenava e, eventualmente, interpretava.

Além disso, está sempre criando projetos culturais. E já aconteceu de ser surpreendida um ano depois, com a aprovação de algum projeto que já estava até esquecido, e ter de encontrar tempo para tocar o projeto aprovado, quando já estava envolvida com trocentas outras atividades. Isto é a Super Maria!

Além disso, o que mais ? Ah, caminha na praia diariamente, pela manhã, antes das 11hs.
Ah, tem mais: faz aulas de hidro-ginastica. Ufa! Será que eu falei tudo ? Ah, neste ano, teve atuação na novela das seis, da Globo, mas já acabaram as gravações.

Ah, tem outro além disso, importantíssimo, comparece a todos os coquetéis de lançamentos de livros, de exposições, etc..etc... e às festas em casa dos amigos. Ela comparece, nem que seja por alguns minutos, vai lá e marca a sua presença. Temos um amigo em comum, o ator e diretor Eduardo Cabus, que vive repetindo o seguinte texto: " Gente, a Maria Pompeu é a grande dama do teatro brasileiro. Gentil, educada, generosa, como só as grandes damas sabem ser". Falou, Cabus.




Afetos & Perceptos

Segunda, foi a festa de aniversário da Super Maria, como eu chamo a atriz MARIA POMPEU. Uma querida amiga de muitos anos, que eu conhecí quando ainda estudava arte dramática em Porto Alegre, e ela excursionava por lá com uma peça. Atriz, produtora, diretora, contadora de histórias, tradutora, e nem lembro mais o quê. Periga eu ter esquecido alguma das suas multiplas atividades. E, como convém a uma atriz, ela recebeu os seus convidados no Teatro Ziembinski, após a estréia do seu mais recente espetáculo, amor feminino plural, uma coletânea de textos da Clarice Lispector , Adélia Prado, Cecilia Meireles à Elisa Lucinda e Bianca Ramoneda, entre vinte autoras, falando do amor aos homens, à família, e do cotidiano. A direção é da competente Monica Alvarenga, e as três atrizes, além da Maria, a Myriam Nogueira e a ótima cantora e atriz Telma Costa.

Após o espetáculo, que a julgar pelos aplausos da classse poderá fazer muito sucesso, teve o coquetel, bolo de aniversário, um piano acompanhando as várias performances de cantatrizes, bailarinos, cantatores, muita dança, cumprimentos com muitos abraços e beijos na boca. Esse povo de teatro é muito beijoqueiro - ainda bem. O Teatro Ziembinski, que tem 200 lugares, estava complemente lotado, com gente sentada no chão, nos corredores, eram todos convidados para o espetáculo e para a festa, fora os retardatários (retidos em gravações de novelas) que chegaram só para o bolo. De A a Z , a classe estava quasi toda lá para abraçar a Maria que é muito querida no meio artístico. Ela é daquelas que é capaz de lembrar todo o ano, as datas de aniversário dos amigos. Se ninguém lembrar, ela vai lembrar e telefonar. Encontrei pessoas que eu não via há anos. O teatro tem disso, a gente trabalha, convive íntimamente um determinado tempo na temporada de uma peça, e depois a gente não se vê mais. A maioria muda de profissão rapidinho, porque só de teatro não dá para sobreviver.

Sempre que vou a alguma festa do meio artístico, aproveito para fazer aquela pesquisa de blogueira. Quando alguém que não vejo há algum tempo pergunta sobre mim, eu respondo bem teatral: leia o meu blog e saberás. Elas fazem aquela cara de espanto, e mandam esta:
- Blog ? O que é isso?
Soube que várias pessoas do meio estão lendo o meu blog e continúam não entendendo nada. Estou me divertindo com as interpretações, as mais desbaratadas. E olhe que são pessoas antenadas com a modernidade, e segundo a mídia, formadoras de opinião e não sabem o que é um blog.

2.11.01

As três ecologias

Desde ontem, procuro desesperadamente na bagunça deste aposento (aposento, que palavra feia!) um livro do Felix Gattari, "As três ecologias", onde ele lança o movimento ecosofista. Já tô entrando numas que emprestei e não foi devolvido, ainda. E foi para alguém muito especial, porque não tenho o hábito de emprestar livros. devolva-me !

1.11.01

Incenso fosse música

isso de querer
ser exatamente aquilo
que a gente é
ainda vai
nos levar além

Tirado do livro "Distraidos Venceremos", do genial PAULO LEMINSKI - Editora Brasiliense,1987.
Ouvindo "Filho de Santa Maria" na voz do ITAMAR ASSUNÇÃO autor da música com letra do Leminski. Demais.