23.10.04

Manifesto Antropofágico

Só a Antropofagia nos une. Socialmente. Economicamente. Filosoficamente.

Única lei do mundo. Expressão mascarada de todos os individualismos, de todos os coletivismos. De todas as religiões. De todos os tratados de paz.

Tupi, or not tupi that is the question.

Contra todas as catequeses. E contra a mãe dos Gracos.

Só me interessa o que não é meu. Lei do homem. Lei do antropófago.

Estamos fatigados de todos os maridos católicos suspeitosos postos em drama. Freud acabou com o enigma mulher e com outros sustos da psicologia impressa.

O que atropelava a verdade era a roupa, o impermeável entre o mundo interior e o mundo exterior. A reação contra o homem vestido. O cinema americano informará.

Filhos do sol, mãe dos viventes. Encontrados e amados ferozmente, com toda a hipocrisia da saudade, pelos imigrados, pelos traficados e pelos touristes. No país da cobra grande.

Foi porque nunca tivemos gramáticas, nem coleções de velhos vegetais. E nunca soubemos
o que era urbano, suburbano, fronteiriço e continental. Preguiçosos no mapa-múndi do Brasil.

Uma consciência participante, uma rítmica religiosa.

Contra todos os importadores de consciência enlatada. A existência palpável da vida. E a mentalidade pré-lógica para o Sr. Lévy-Bruhl estudar.

Queremos a Revolução Caraíba. Maior que a Revolução Francesa. A unificação de todas as revoltas eficazes na direção do homem. Sem nós a Europa não teria sequer a sua pobre declaração dos direitos do homem.

A idade de ouro anunciada pela América. A idade de ouro. E todas as girls.

Filiação. O contato com o Brasil Caraíba. Ori Villegaignon print terre. Montaigne. O homem natural. Rousseau. Da Revolução Francesa ao Romantismo, à Revolução Bolchevista, à Revolução Surrealista e ao bárbaro tecnizado de Keyserling. Caminhamos.

Nunca fomos catequizados. Vivemos através de um direito sonâmbulo. Fizemos Cristo nascer na Bahia. Ou em Belém do Pará.

Mas nunca admitimos o nascimento da lógica entre nós.

Contra o Padre Vieira. Autor do nosso primeiro empréstimo, para ganhar comissão. O rei-analfabeto dissera-lhe: ponha isso no papel mas sem muita lábia. Fez-se o empréstimo. Gravou-se o açúcar brasileiro. Vieira deixou o dinheiro em Portugal e nos trouxe a lábia.

O espírito recusa-se a conceber o espírito sem o corpo. O antropomorfismo. Necessidade da vacina antropofágica. Para o equilíbrio contra as religiões de meridiano. E as inquisições exteriores.

Só podemos atender ao mundo orecular.

Tínhamos a justiça codificação da vingança. A ciência codificação da Magia. Antropofagia. A transformação permanente do Tabu em totem.

Contra o mundo reversível e as idéias objetivadas. Cadaverizadas. O stop do pensamento que é dinâmico. O indivíduo vítima do sistema. Fonte das injustiças clássicas. Das injustiças românticas. E o esquecimento das conquistas interiores.

Roteiros. Roteiros. Roteiros. Roteiros. Roteiros. Roteiros. Roteiros.

O instinto Caraíba.

Morte e vida das hipóteses. Da equação eu parte do Cosmos ao axioma Cosmos parte do eu. Subsistência. Conhecimento. Antropofagia.

Contra as elites vegetais. Em comunicação com o solo.

Nunca fomos catequizados. Fizemos foi Carnaval. O índio vestido de senador do Império. Fingindo de Pitt. Ou figurando nas óperas de Alencar cheio de bons sentimentos portugueses.

Já tínhamos o comunismo. Já tínhamos a língua surrealista. A idade de ouro.

Catiti Catiti

Imara Notiá

Notiá Imara

Ipeju*

A magia e a vida. Tínhamos a relação e a distribuição dos bens físicos, dos bens morais, dos bens dignários. E sabíamos transpor o mistério e a morte com o auxílio de algumas formas gramaticais.

Perguntei a um homem o que era o Direito. Ele me respondeu que era a garantia do exercício da possibilidade. Esse homem chamava-se Galli Mathias. Comia.

Só não há determinismo onde há mistério. Mas que temos nós com isso?

Contra as histórias do homem que começam no Cabo Finisterra. O mundo não datado. Não rubricado. Sem Napoleão. Sem César.

A fixação do progresso por meio de catálogos e aparelhos de televisão. Só a maquinaria. E os transfusores de sangue.

Contra as sublimações antagônicas. Trazidas nas caravelas.

Contra a verdade dos povos missionários, definida pela sagacidade de um antropófago, o Visconde de Cairu: - É mentira muitas vezes repetida.

Mas não foram cruzados que vieram. Foram fugitivos de uma civilização que estamos comendo, porque somos fortes e vingativos como o Jabuti.

Se Deus é a consciênda do Universo Incriado, Guaraci é a mãe dos viventes. Jaci é a mãe dos vegetais.

Não tivemos especulação. Mas tínhamos adivinhação. Tínhamos Política que é a ciência da distribuição. E um sistema social-planetário.

As migrações. A fuga dos estados tediosos. Contra as escleroses urbanas. Contra os Conservatórios e o tédio especulativo.

De William James e Voronoff. A transfiguração do Tabu em totem. Antropofagia.

O pater famílias e a criação da Moral da Cegonha: Ignorância real das coisas+ fala de imaginação + sentimento de autoridade ante a prole curiosa.

É preciso partir de um profundo ateísmo para se chegar à idéia de Deus. Mas a caraíba não precisava. Porque tinha Guaraci.

O objetivo criado reage com os Anjos da Queda. Depois Moisés divaga. Que temos nós com isso?

Antes dos portugueses descobrirem o Brasil, o Brasil tinha descoberto a felicidade.

Contra o índio de tocheiro. O índio filho de Maria, afilhado de Catarina de Médicis e genro de D. Antônio de Mariz.

A alegria é a prova dos nove.

No matriarcado de Pindorama.

Contra a Memória fonte do costume. A experiência pessoal renovada.

Somos concretistas. As idéias tomam conta, reagem, queimam gente nas praças públicas. Suprimarnos as idéias e as outras paralisias. Pelos roteiros. Acreditar nos sinais, acreditar nos instrumentos e nas estrelas.

Contra Goethe, a mãe dos Gracos, e a Corte de D. João VI.

A alegria é a prova dos nove.

A luta entre o que se chamaria Incriado e a Criatura - ilustrada pela contradição permanente do homem e o seu Tabu. O amor cotidiano e o modusvivendi capitalista. Antropofagia. Absorção do inimigo sacro. Para transformá-lo em totem. A humana aventura. A terrena finalidade. Porém, só as puras elites conseguiram realizar a antropofagia carnal, que traz em si o mais alto sentido da vida e evita todos os males identificados por Freud, males catequistas. O que se dá não é uma sublimação do instinto sexual. É a escala termométrica do instinto antropofágico. De carnal, ele se torna eletivo e cria a amizade. Afetivo, o amor. Especulativo, a ciência. Desvia-se e transfere-se. Chegamos ao aviltamento. A baixa antropofagia aglomerada nos pecados de catecismo - a inveja, a usura, a calúnia, o assassinato. Peste dos chamados povos cultos e cristianizados, é contra ela que estamos agindo. Antropófagos.

Contra Anchieta cantando as onze mil virgens do céu, na terra de Iracema, - o patriarca João Ramalho fundador de São Paulo.

A nossa independência ainda não foi proclamada. Frape típica de D. João VI: - Meu filho, põe essa coroa na tua cabeça, antes que algum aventureiro o faça! Expulsamos a dinastia. É preciso expulsar o espírito bragantino, as ordenações e o rapé de Maria da Fonte.

Contra a realidade social, vestida e opressora, cadastrada por Freud - a realidade sem complexos, sem loucura, sem prostituições e sem penitenciárias do matriarcado de Pindorama.



OSWALD DE ANDRADE Em Piratininga
Ano 374 da Deglutição do Bispo
Sardinha." (Revista de Antropofagia,
Ano 1, No. 1, maio de 1928.)


* "Lua Nova, ó Lua Nova, assopra em
Fulano lembranças de mim", in
O Selvagem, de Couto Magalhães

Oswald de Andrade alude ironicamente a um episódio da história do Brasil: o naufrágio do navio em que viajava um bispo português, seguido da morte do mesmo bispo, devorado por índios antropófagos.
Ainda se discute rinhas!
Memória do JB

Carlos Drummond de Andrade (1983)

Como se não bastasse tanta gente brigando feio no Oriente e na América Central, ainda há quem se lembre de promover briga de galo, e até de justificá-la econômica e socialmente, argumentando que o fechamento das granjas especializadas na criação de aves de combate importaria em aumento da taxa nacional de desemprego! Esta é forte. O que os defensores da rinha esquecem é que os empregos correspondentes poderiam muito bem ser conservados e até multiplicados se essas granjas de tipo perverso passassem dedicar-se à criação de aves comuns, em bases empresariais que garantissem o aumento de produção e o relativo barateamento de custo. Quanto brasileiro que há por aí que não pode permitir-se o luxo de comer frango e fica estatelado de horror ao saber que os galos são dispensados de sua missão de reprodutores para se estraçalharem mutuamente, em espetáculos pagos a bom preço e assistidos por espectadores sádicos!
O desemprego que os defensores da briga de galos querem evitar é o de pessoas que exercem atividade ilegal de trabalho, e portanto não são socialmente defensáveis. A aceitar-se o critério de que eles merecem apoio porque ganham assim o pão de cada dia, temos de admitir igualmente que os traficantes de tóxicos não podem ser impedidos de exercer sua atividade sinistra porque vivem dela. (...) Que tal institucionalizar a guerra como veículo supremo de emprego nas retaguardas, e também de lucro nas linhas de frente, onde se fariam apostas sobre a sorte dos combates, o número e gravidade de ferimentos, a duração de agonias? Será altíssima contribuição para o desenvolvimento das nações, mediante o pleno emprego dos sobreviventes.
(...) A confusão de valores é tamanha que se chama a essa luta de esporte. Esporte seriam então os entreveros a faca ou punhal, os enfrentamentos a pistola, e qualquer tipo de ferocidade a que nos aplicássemos. Seria altamente esportivo todo conflito de rua, as mais fascinantes se tornariam ainda os assaltos organizados a bancos e joalherias, com os seguranças treinados para rechaçá-los. As mortes subseqüentes valeriam como pontos negativos para cada uma das partes, e os espectadores, se tivessem folga para isso, fariam apostas em cruzeiros ou dólares sobre o final da partida. Afinal, seguranças e assaltantes precisam viver, mesmo à custa de sangue derramado. (...). Fora com os torturadores de animais!
Artigo publicado em 8 de novembro de 1983 no Caderno B do Jornal do Brasil
[23/OUT/2004]

20.10.04


Esta fofinha é Lua Negra, a gatinha do Ernesto. Tem um post aqui do dia 18/novbro/2003 que ainda não foi para o arquivo contando uma fantástica história dessa quadrupinha.

17.10.04

Fábula da convivência
Há milhões de anos atrás, durante uma era glacial, quando parte de nosso planeta esteve coberto por grandes camadas de gelo. Muitos animais, não resistiram ao frio intenso e morreram, indefesos, por não se adaptarem às condições.
Foi, então, que uma grande manada de porco-espinhos, numa tentativa de se proteger e sobreviver, começaram a se unir, juntar-se mais e mais.
Assim, cada um podia sentir o calor do corpo do outro. E todos juntos, bem unidos, se agasalhavam uns aos outros, aqueciam-se mutuamente, enfrentando por mais tempo aquele frio rigoroso.
Porém, vida ingrata, os espinhos de cada um começaram a ferir os companheiros mais próximos, justamente aqueles que lhes forneciam mais calor, aquele calor vital, questão de vida ou morte.
E afastaram-se, feridos, magoados, sofridos. Dispersaram-se, por não suportarem mais tempo os espinhos dos seus semelhantes. Doíam muito...
Mas essa não foi a melhor solução! Afastados, separados, logo começaram a morrer de frio, congelados. Os que não morreram voltaram a se aproximar pouco a pouco, com jeito, com cuidado, de tal forma que, unidos, cada qual conservava uma certa distância do outro, mínima, mas o suficiente para conviver sem magoar, sem causar danos e dores uns nos outros.
Assim, suportaram-se, resistindo à longa era glacial.
Sobreviveram.


Ela está no Rio para uma temporada relâmpago. Detalhes aqui no blog de
artes cênicas.

13.10.04


E esse aquí é o Artur. A tia Ruth fotografou ele lá em Osório
no Natal do ano passado.
Sincronicidade é isso
Ontem, depois que eu acabei de postar aqui fui abrir a mail-box e o que encontro? Uma foto do Murilo enviada pela tia Irene. Ele aparece na foto da banheira, a minha irmã ensaboando a cabecinha dele.


Murilo e o seu boneco favorito

12.10.04


Izabela (não é linda?!)fotografada por mim em Gramado, em Dezembro do ano passado, quando fomos lá assistir o Natal Luz.

Em cima do lance
Só gora quando ia baixar a foto da Izabela me toquei (fiquei meio desplugada nesse feriadão) que hoje é o Dia da Criança. Salve elas!



Minha irmã Reneidi, recepciona os osorienses Izabela e Artur,
que estavam visitando a tia e o priminho Murilo, em Porto Alegre,
no domingo retrasado.



Aniversário da Izabela comemorado na sua escola, lá em Osório.
Olha a carinha de safados desses piazinhos.
Oia nóis aqui traveiz.
Tava com saudades desse bloguinho abandonado.
Artimanhas foi o meu primeiro blog. Tive uns dez...
Passado o entusiasmo blogueiro só tô com o de artes cênicas, e olhe lá ...
Blog dá muito trabalho e eu tô sem tempo. Tô escrevendo um livro com as minhas colegas professoras de Recuperação Motora - terapia através da dança, sobre o nosso trabalho com portadores de dificuldades especiais na FUNLAR.

Este blog era um diario ou tinha pretensões a tal.
Agora vou voltar a postar fotos e alguns textos...
Isso aqui já foi quasi um divã de analista.
Blog serve pra isso também.
Gosto de reler o que escrevo e ver como era o
meu estado àquela época.
Posto aqui antes de tudo pra mim mesma.
E por hoje é só.
Vou baixar umas fotos aqui.


Ernesto e a Nina, sua namorada. Lindos !