30.6.02

VIVA O BRASIL! BRASIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIILLLLLLLLLL!
* Ver o CAFU subir - literalmente - em cima daquele pódio, e levantar a taça do Penta, não teve preço. Foi muito mais do que uma quebra do protocolo. Foi completamente surpreendamental e anormal. O embaraço do Pelé era visível e o ar constrangido do presidente da FIFA (ou sei lá quem era a alta autoridade do futebol mundial presidindo aquele momento). Isto é o atleta do século 21, e esta é a Seleção do Milenio!

** Oirirê, Oirirê,Oirirê... Yorubá, Yorubááá, Aiê, Aiê, Aiê... Oiô, Oiô, Oiô... ecoando pelo estudio da Globo -- na hora da entrevista com aquele bobalhão do Galvão-- apresentava a inspirada performance artística do RONALDINHO GAÚCHO, tocando zabumba e liderando aquela celebração foi totalmente demais. O lindo do ROBERTO CARLOS soltando a voz, e um tímido RONALDINHO CARIOCA ("o feio tá na moda"), ensaiando uns passinhos desajeitados, e todos os jogadores campeões do mundo cantando, dansando e tocando algum instrumento, contagiaram a gALLera presente no estudio. E até a Fatima Bernardes aderiu. Como ela é diferente fora do estudio do Jornal Nacional. Fiquei fã.

*** A nota destoante daquele importante momento da arte e da cultura brasileira na Copa do Penta foi a obviedade ululante do Bobalhão Bueno, interrompendo a celebração para pedir "Explode coração, na maior felicidade...". Não entendeu o espirito do momento. Foi demais para a cabeça dele. Nada contra essa música, mas temos tão poucas oportunidades para divulgar os nossos valores culturais mais autênticos.

**** Baaaahhhh Tchê! O PROFESSOR FELIPE, em campo, no final dando um afetuoso abraço e um beijo na careca do Roberto Carlos, e pulando no meio dos jogadores, mostrou ao mundo o jeito de ser do gaúchão de quatro costados -- o Gremista FELIPÃO.

***** VIVA A SELEÇÃO BRASILEIRA ! VIVA O BRASIL ! VIVA A ARTE E A CULTURA BRASILEIRA, MOSTRANDO AO MUNDO OS NOSSOS VALORES.

VIVA O CABAÇAL E O MARACATU NA BROADWAY !!! BRASIIIIIIIIILLLLLLL!


VIVA A CIA. VATÁ DO CEARÁ -- grupo de dança, de Fortaleza, que está viajando
para os EE.UU., convidados pela segunda vez para participar de um festival de dança no Teatro 42th, na Broadway, em Nova York, e botando o povo de lá para dançar cabaçal, baião, coco, xaxado, maracatu e outros ritmos bem Brasil
. Detalhes do fato, aqui no blog de artes cênicas, o Teatro ETC. & Tal.

28.6.02

Caramba! Neguinho tá falsificando até moeda de um real. Essa inusitada história aconteceu lá no Sul, em Osório -- cidade localizada no litoral norte do Rio Grande do Sul. Um blogueiro gaúcho, indignado, denuncía o fato aqui no Lixoral.

27.6.02

À cause du Hamlet de Peter Brook au Rio

[] Ver o Hamlet de Peter Brook e a aula de simplicidade e sabedoria do Sotigui Kouyaté, não teve preço. Entre os cinco grandes diretores do mundo, era o único que eu ainda não tinha visto no teatro. Em setembro do ano passado, veio pela primeira vez ao Brasil, um espetáculo do Peter Brook para duas únicas apresentações no Porto Alegre Em Cena. Rio e São Paulo ficaram fora do roteiro. Eu preparei um esquema para comparecer ao magnanimo acontecimento, e a minha irmã que mora em POA ficou encarregada de comprar os ingressos. Mas a coitada, enfrentou uma fila quilometrica num shopping center, e não conseguiu nada. Nem em Paris, eu consegui. Encontrar uma peça dele em cartaz no Bouffes du Nord é uma graça alcançada por poucos.

[] Eu ainda não entendí porque alguns amigos que vêm até aqui me visitar ignoram o meu blog de artes cênicas, mesmo quando eu chamo a atenção para as notícias de lá, e depois reclamam que não sabiam da vinda do Peter Brook. Dei a notícia aqui no Teatro ETC & Tal, no dia 26 maio com todos os detalhes. Portanto, com um mês de antecedência. Por isso agora, eu posto lá e posto aqui também, tudo à cause do Hamlet de Peter Brook.

[] Na estréia do Hamlet encontrei amigos e conhecidos que eu não via há um tempão. A classe artística compareceu legal. Não tô afim de citar nomes.
Só de alguns queridos meus como os conterrâneos Paulo José e o bailarino e coreografo Rubem Barbot, o diretor baiano Marcio Meirelles e o ator Hilton Cobra, o "companheiro" Paulo Betti que estava lá na estréia e na aula do Sotigui, e o ator Sergio Fonta.

[] Estavam lá também a minha muito querida amiga, a escritora e dramaturga Maria Inês Almeida ( fã da Cora Rónai ), acompanhada de amigos e da Beila Genauer ( Beila Genauer existe -- não é uma miragem) e a queridíssima amiga Super Maria (Maria Pompeu). E mais a Aracy Cardoso, a Thaís Portinho, a Regina Chaves, a Mestra Regina Miranda, a Marcia Bloch, a Teresa Seibel, e a Tereza Raquel, franciscanamente vestida com uma tunica longa marrom, super larga. Só não era confundida com uma freira por causa da maquiage e dos muitos colares e pulseiras.

[] Os cinco mais importantes diretores do mundo para mim: Ariane Mnouchkine (a maior entre os maiores),o Bob Wilson, Peter Brook, o nosso Antunes Filho e o alemão Peter Stein. O porquê das minhas escolhas eu falo aqui no Teatro ETC. & Tal.

26.6.02

Devia ter mais jogos da Copa nos dias que eu trabalho de manhã. Tive a pretensão de dormir até mais tarde, mas os fogueteiros e os desvairados torcedores não deixaram. Como eu sou blogueira, nem esquentei ... vim blogar.


Cadê o meu texto de Hamlet?

Há mais de uma semana eu procuro desesperademente em todos os cantos dos armários e estantes, o texto de Hamlet porque pretendo fazer um comentário mais abrangente sobre o Hamlet de Peter Brook, e o dito está sumido. Esse livro me acompanha desde os tempos de estudante de arte dramática. Enfim, lembrei corretamente. Mero acaso. Eu sempre digo bacharel em artes cênicas, mas tá lá no meu diploma bacharel em arte dramática pela UFRGS. ( Hhummm... porque tô falando isso, agora?).

Nessa época, fizemos em aula, uma analise do texto de Shakespeare abordando vários aspectos da personalidade do príncipe bardo, e a minha abordagem foi sobre a homossexualidade de Hamlet, segundo a minha ótica, à época. E a minha conclusão, mereceu anotações no próprio livro, em todas as cenas com o seu melhor amigo: o Horacio. Alguém comentou com outro alguém que espalhou a história, e esse livro virou uma atração da minha casa. Os amigos e conhecidos que vinham aqui todos queriam ver as minhas famosas anotações sobre o Hamlet. E eu paguei micos homéricos ás custas desse fato.

Devolva-me.
Não perdí a esperança de encontrar o meu precioso texto do Hamlet, nem que seja daqui há mêses, anos, tem que aparecer. O livro do Félix Guattari "As três ecologias" sumiu também, e apareceu mêses depois em outra prateleira, misturado com outros livros, em outros temas. Voilà.

25.6.02

Um contador de histórias, simplesmente.

Domingo de manhã no Teatro Carlos Gomes para uma platéia de atores, bailarinos, circenses, contadores de histórias, etc. aconteceu a tão falada aula-espetáculo ou Master Class do ator do Hamlet de Peter Brook, SOTIGUI KOUYATÉ -- uma aula de simplicidade e de sabedoria. Simplesmente isso.

Durante quasi duas horas, contou histórias, falou sobre cultura e tradições africanas, e sobre as coisas da vida. Eu fiquei com duas frases gravadas na memória:
Cada dia descobrir o melhor de si mesmo no encontro com os outros e O mais difícil neste mundo é o conhecimento de si mesmo.

Um mestre na vida e na arte.

Mais detalhes aqui no suplemento de artes cênicas deste blog - o Teatro ETC. & Tal.

24.6.02

Saí na Cora Rónai impressa e on-line

Estou exibidíssima. Saí no Caderno de Informática de O GLOBO no primeiro blog impresso publicado na imprensa brasileira, e acho que no mundo: arte e manha da jornalista, dramaturga (premiadíssima) e escritora Cora Rónai. Estreiou na semana passada, saltando da página 3 para a 30 -- última página do Caderno de Informática, onde ela publica o que ela escreve no seu blog, o InternETC, e os comentários da comunidade blogueira e dos seus amigos, leitores e admiradores de O GLOBO.

E para completar a minha alegria, o blog impresso traz a foto do MOSCA -- o Canalha Amarelo, o mais destacado membro da Familia Gato -- em toda a sua Magestade. Gostou querida Meg?

22.6.02

Kafka puro -- batalha do ingresso para a aula-espetáculo no Teatro Carlos Gomes

Hoje, assim que acordei às onze e tantas da manhã começa a operação telefonema. E o telefone da bilheteria do Carlos Gomes, 2232-8701 chama, chama e ninguém atende. Tomo o café da manhã, e volto. Nada. Lá pelas tantas depois dos trocentos telefonemas, e o telefone dando sempre ocupado, afinal uma voz avisa que o telefone mudou para 2220-0250. Insisito e não desisto. Depois de outros trocentos telefonemas, e direto aquele barulhinho irritante de
ocupado, e já passando de uma hora da tarde, enfim atendeu um rapaz que informou laconicamente: só a partir das 14hs. tá Senhora? Tá. O que posso fazer? Já estava arrependida de não ter acreditado na informação de ontem, e ter acordado cedo e ido pra lá às 10 hs. da manhã.

Dei um tempo, e fui abrir a mail-box e lá estava um convite da RIOARTE repassado ao Forum de Teatro pelo Mariozinho Telles, dizendo que os ingressos para o Master Class já estavam á venda e o telefone de contato era o fatídico 2232-8701.
Outro e-mail da Super Maria - minha amiga Maria Pompeu, gentilmente, avisando da aula-espetáculo. Ela não lê o meu blog, a danadinha. Se tivesse lido, não perderia o seu precioso tempo, mandando esta informação.

Depois disso volto ao telefone que continuava na mesma -- ocupado. E lá pelas tantas já passavam das 14hs, atende uma voz gravada com a seguinte informação: Este telefone, temporàrtiamente não está recebendo chamadas. Estamos providenciando o reparo. Por favor, tente mais tarde.Caramba. Já conhecia esta informação, é a mesma gravação do sabado passado, quando eu tentava a informação da venda de ingressos na segunda-feira.

Parei a operação telefone e fui me preparar para ir acampar lá em frente à bilheteria até conseguir comprar o meu ingresso. Antes de sair de casa, às 15,30hs. resolvi fazer uma última tentativa. E não é que desta vez atendeu uma voz feminina, ao vivo, e confirmou que estariam á venda hoje até às 18hs. Nem acreditei no que ouví. Nova ligação, desta vez para pegar o nome da bilheteira. Ocupado, ocupado, outra voz feminina confirma as informações. Agradeço e mando a clássica pergunta: Com quem eu falei ? -- Com Nina.

Em menos de meia hora, eu estava estacionando em frente ao Carlos Gomes e antes de eu descer do carro, um simpático senhor de cabelos grisalhos se aproxima e pergunta discretamente : tem algum ingresso sobrando?. Arrisquei perguntar se ele sabia se ainda teria ingressos para a aula-espetáculo, e um para hoje á noite, porque eu queria assistir novamente o espetáculo. Ele nem respondeu, foi se afastando e um outro se aproximou, e começou a me mandar estacionar, e daí veio outro grandalhão nervoso, estaciona ali, estaciona ali na frente do outro. Um clima pesado e estranho.

Enfim, a batalha estava chegando ao seu final. Consegui comprar os ingresssos. E ao me retirar perguntei à bilheteira, se ela era a Nina. Não era. E adivinhem quem estava ali ao vivo na minha frente : Dona Fátima. Relatei a ela os acontecimentos todos, e ela falou simplesmente que isto se devia a pessoas que não eram da bilheteria, não saberem informar. Mencionei o rapaz de ontem, o Leonardo, que foi confirmar com ela e voltou com a informação fornecida por ela mesma. Daí ela disse que ele era o guarda de lá. Portanto, na categoria dos que não sabem informar.

Foi uma conversa muito aflitiva, porque ela falava muito baixo e eu não ouvia direito o que ela respondia, e a todo o momento eu tentava enfiar a cara ou encostar o ouvido naquele buraco redondo da bilheteria para ouvir melhor. Dona Fátima foi educada, mas as suas explicações foram muito evasivas. Desistí de entender. Mesmo porque já tinham três pessoas atrás de mim, e um rapaz aflitíssimo, querendo ingresso pra hoje. Agradecí e saí portando o precioso troféu: os dois ingressos para amanhã às 11hs. na Master Class do Sotigui Kouyaté.

150 reais, o preço do ingresso para assistir o último dia do Hamlet de Peter
Brook


Eu disse cento e cincoenta reais, o preço que está sendo cobrado pelos cambistas, hoje. E eles estão com pouquíssimos ingressos á venda, por isso estão a postos lá na frente do Carlos Gomes desde cedo. Bem que eu estranhei a pergunta daquele senhor. O normal seria ele oferecer o ingresso e não o contrário. Que os deuses do teatro tenham compaixão dos pobres mortais que não conseguiram comprar o seu ingresso ao prêço normal de 15 reais.
Aula-espetáculo de SOTIGUI KOUYATÉ, do elenco do Hamlet de Peter Brook.

Começou outra batalha por ingresso no Teatro Carlos Gomes. Desta vez para a aula-espetáculo, no domingo, às 11hs, de Sotigui Kouyaté -- o ator que faz o Polonio e o segundo coveiro e que trabalha há mais de vinte anos com Peter Brook. Sotigui, natural de Mali na Africa Ocidental, além de ator, autor,compositor,cantor e dramaturgo -- Barbara lhe adora, foi lembrado com destaque ontem na crítica de Hamlet, o magistral Próspero na Tempestade de Brook em Paris -- é também contador de histórias e pertence a uma tradicional familia de Griots.

Ele já deu uma oficina de quatro dias que acabou hoje. Eu fiquei numa fila de espera para essa oficina, mas não rolou. Hoje, ficamos sabendo pela reportagem de O GLOBO, que haveria essa aula-espetáculo no domingo. Uma amiga telefonou para o Carlos Gomes e disseram que os ingressos a dez reais, estariam á venda na bilheteria no mesmo dia do evento, domingo, a partir das 10hs. Ela me telefonou, sabendo da minha vocação para enfrentar filas, pedindo que comprasse para ela, o seu ingresso.

Ressabiada, telefonei para confirmar, e disseram que era amanhã, sábado, a partir das dez horas, a venda para domingo. Mencionei a informação que fora dada à minha amiga, e o rapaz que me atendeu, solícito foi confirmar e volta dizendo que a bilheteira Dona Fátima (assim mesmo, Dona Fatima, ele falou) confirmara a informação de sábado a partir das 10hs., dizendo que estariam á venda também no domingo, a partir das 10 hs. Algumas horas depois, telefonei para confirmar quantos ingressos seriam vendidos por pessoa. Atenderam da recepção (a bilheteria já estava fechada), e o rapaz muito educado e atencioso que se identificou como Juanildo informa que a bilheteria, amanhã, (sábado) abria às 14 hs. Repeti para ele as informações anteriores, e ele falou que até ontem não tinha conhecimento do evento de domingo, e não sabia informar desse horário extra da bilheteria. Sugeriu que eu telefonasse manhã a partir de nove horas, quando os funcionários da bilheteria já estariam a postos, e deveriam saber informar. Voilà.

21.6.02

"Historinha" do Hamlet contada por Peter Brook

Meninos, eu vi. Eu vi ontem, na estréia, o Hamlet de Shakespeare contado por Peter Brook. Foi lindo e emocionante. Um presente raro. O espetáculo é de uma simplicidade de criança brincando de fazer teatro, mas com o requinte e a competência da direção de um dos maiores ícones do teatro moderno. Ele mostra como Shakespeare é fácil e divertido, e não é nenhuma novidade que ele possa tirar boas gargalhadas da platéia. No final, os atores voltaram à cena várias vezes para agradecer os aplausos do público que superlotou o Teatro Carlos Gomes.

William Nadylam, o ator que faz o Hamlet é simplesmente inesquecível. Após o espetáculo houve um concorrido coquetel para convidados, no mezanino do Carlos Gomes, quando eu tive a honra de conversar e trocar idéias com Nadylam. Fui eleita a interprete oficial da gALLera para os cumprimentos, beijos, abraços, e todos os afagos ao William Nadylam. Saí de lá mais duas e meia da madruga, e a festa continuava no auge.

20.6.02

SHAKESPEARE, Barbara lhe adora. PETER BROOK, Barbara não lhe adora.


--Um Shakespeare com assinatura Peter Brook
Barbara Heliodora

Se em “Romeu e Julieta” se faz a pergunta “o que há em um nome?”, o espetáculo que o grupo do CICT Théâtre des Bouffes du Nord, sediado em Paris, apresenta em rápida temporada no Rio — de hoje a sábado, no Teatro Carlos Gomes, com ingressos já esgotados — deixa bem claro que pode haver muita coisa implícita em uma simples mudança de nome: William Shakespeare escreveu “A tragédia de Hamlet, príncipe da Dinamarca”; o que nos visita agora é “A tragédia de Hamlet”, uma adaptação de Peter Brook, provavelmente o nome de maior prestígio internacional no campo da direção, que trabalhou com o texto traduzido para o francês por Jean-Claude Carrière e Marie-Hélene Estienne (também assistente e colaboradora na direção). Cada vez mais adepto do despojamento cênico, o Brook adaptador aparentemente quis levar seu trabalho nessa área aos mesmos extremos mas, ao mexer com o texto, acabou perdendo de vista a considerável diferença existente entre despojar e simplesmente empobrecer.

Adaptação concentra ação no personagem principal

É possível que nada faça tanto Shakespeare destacar-se de seus contemporâneos quanto o fato de ele criar suas ações e seus personagens firmemente plantados em um universo sociopolítico sólido, com o qual interagem os personagens e pelo qual são influenciadas as ações; a “adaptação” de Brook consta justamente em cortar todas as informações e todos os aspectos que formam o universo específico da tragédia original de Shakespeare, deixando o que resta (a estrita história da vingança) boiando no espaço, em uma espécie de simplificação da linha de “Reader's Digest” (com a ressalva de que esta última evitaria as inversões de ordem que o espetáculo contém). A encenação desse novo e redutivo texto é realizada em tom que dá a nítida impressão de ter sido pensada para mostrar como Shakespeare é fácil e divertido, em algum projeto de teatro nas escolas: tudo é feito no sentido de a peça inteira ficar concentrada apenas no personagem principal, sem a complexidade e a abrangência da obra do poeta.

O espetáculo começa com o primeiro monólogo de Hamlet. Este fica um tanto difícil de ser apreciado por quem não tiver suficiente intimidade com a peça para se lembrar de todas as informações básicas dadas no total da primeira cena e na metade da segunda, que foram cortadas. A terceira cena (na casa de Polônio) também é cortada, como o início da quarta (os personagens menores já haviam sido eliminados), e logo depois... Não vale a pena continuar a detalhar os cortes; o que podemos chamar de “a historinha” de Hamlet continua a se desenrolar sem noção de passagem de tempo e sem maior atenção ao desenrolar do processo em que está envolvido o personagem principal: o famoso “ser ou não ser” é arbitrariamente jogado para o momento em que Hamlet já está em outro patamar de pensamento e deve ir para a Inglaterra, sendo — não dá para saber por quê — concluído com os versos finais do último monólogo.

Peça termina com fala da primeira cena

É claro que onde não há Dinamarca não há preocupação de Hamlet com o governo de seu país, não há Fortimbras e nem o voto que Hamlet lhe dá ao morrer. A cena final apresenta uma constrangedora solução para as várias mortes: como o diretor quer deixar Hamlet sozinho em cena, a Rainha, o Rei e Laertes são ridiculamente ajudados a sair de cena, quando mortos, andando de costas até a coxia. Acabar a peça com “Boa noite, doce príncipe etc” é corrente, principalmente em versões românticas que querem apenas glorificar o protagonista; mas Brook acrescentou um dos detalhes mais gratuitos que se possa imaginar: Horacio deixa Hamlet morto, avança e dirige-se à platéia para dizer: “Mas vejam, a manhã vestida de vermelho pisa do orvalho daquela colina a leste”, do final da primeira cena da peça. Com muita imaginação e boa vontade, talvez seja possível que esse momento final seja incluído como a promessa de um novo dia, mas como não há referência ao futuro, não se encontra no que acontece efetivamente no palco qualquer razão para isso.

Qualquer coisa que se diga a respeito de “A tragédia de Hamlet”, portanto, não é bem sobre a peça de Shakespeare. Para o espetáculo, a proposta de Brook de que para fazer qualquer dos grandes papéis de Shakespeare é preciso esquecer a assinatura e ler o texto como se fosse uma peça nova é válida e realmente fundamental; mas nesta “Tragédia de Hamlet”, a idéia foi levada a um exagero infeliz — ainda para mostrar o quanto o bardo é bom moço, fácil e simpático, a grande novidade fica sendo o número de ocasiões em que tudo é feito de modo a tirar boas gargalhadas da platéia: até uma boa metade do espetáculo, o tom da comédia é o dominante e para isso se esforçam o reduzido elenco e principalmente o protagonista.

Entre a idéia de encarar o texto como novo e fazer o ator em grande parte responsável por sua interpretação, a direção de Peter Brook opta por uma leitura simples mas sempre voltada para um tom de quem quer explicar tudo para a platéia, talvez por julgá-la incapaz de apreciar o que vê.

Encenação, visualmente, é um prazer

Visualmente, “A tragédia de Hamlet” é um prazer: um grande tapete, algumas almofadas, alguns tapetes menores e figurinos simples, tudo com cores e tecidos da Índia. A atraente música é criada e executada por Antonin Stahly, que também faz o papel de Horácio. O elenco é de oito atores, que fazem dois ou três papéis cada. O protagonista é o ótimo William Nadylam, que, dentro de todas as restrições que têm de ser feitas ao conceito da direção, executa muito bem o que lhe é pedido. Igualmente bom é Emile Abossolo-Mbo, que faz tanto o Fantasma quanto o Rei, e muito bom também é Bruce Meyers, que faz Rosencranz, o primeiro ator e o primeiro coveiro. Sotigui Koyaté, que há alguns anos fez um magistral Próspero na “Tempestade” de Brook em Paris, está muito sacrificado com uma linha ridícula para Polônio (e um pouco melhor em um caricato segundo coveiro). O Horácio de Stahly é simpático e discreto, mas o resto do elenco é mais fraco: Lilo Baur (a Rainha) e Véronique Sacri (Ofélia) são bastante inexpressivas e Rachid Djaïdani é simplesmente muito ruim como Guildenstern e, principalmente, como o segundo ator e Laertes.

Mexer com texto de Shakespeare, conclui-se, é muito difícil até mesmo para um Peter Brook; é uma pena que a visita não seja feita com algum de seus outros e mais bem-sucedidos trabalhos, como a sua fascinante montagem de “A tempestade”. É claro que quando se faz restrições a um espetáculo como esse, elas são feitas a partir de um patamar já muito alto em si.

Jornal O GLOBO - 20 de junho de 2002. Íntegra da crítica de Barbara Heliodora.






19.6.02

Bouffonneries à cause de Hamlet do Peter Brook - 5 hs. na fila do Teatro Carlos Gomes

I. Saí de casa antes do meio dia, mas peguei um transito brabo do final do jôgo. Entrei na rua do Carlos Gomes, e já tinha uma fila respeitável. Estacionei o Abelardo ali mesmo, e fui pra fila às 12,40hs. E nisso, atrás estacionam vários outros. De repente, sumiram os carros, e só dava o Abelardo estacionado e um caminhão descarregando material lá na frente. E nisso vêm passando alguns PMS apressados, e eu naquela saí da fila e tratei de ir tirar o carro dali, e com o apoio da galera da fila em coro:" Vai, vai estacionar que guardamos o lugar". Saí batida, faltavam vinte minutos para abrir a bilheteria. Rápida pesquisa nas cercanias e descobri por pura sorte uma garagem que não precisava deixar a chave do carro.

II. Às 13,30 hs., antes de abrir a bilheteria, um simpático e educado jovem percorria a fila fazendo anotações. Pensei que fosse um jornalista, mas quando chegou perto soube que ele estava anotando os nomes das pessoas, e a ordem numérica da fila. Fui o número 68. Como seriam vendidos dois ingressos por pessoa, e corria o boato que tinha só uns duzentos, o meu estava garantido. Logo depois disso, vêm mais cinco ou seis PMS novamente correndo em direção aos lados do BNH, e comenta-se na fila que estava havendo uma confusão ali perto na Petrobras por causa da greve dos funcionários.

III. Mais ou menos às 14,30 hs. abriu a bilheteria, e a fila começou a andar. Nesse momento, entrou em cena um guarda da PM que interrompeu a fila, e abriu uma clareira em frente à calçada da Relojoaria Tupy. Eu fiquei na ponta da fila em frente a uma papelaria, parada até a ordem do PM que liberava de três em três para a outra ponta da fila. E, de repente, eu ví sair de dentro da Relojoaria Tupy uma senhora de cabelos brancos, muito elegante na sua blusa de renda branca e saia preta longa, carregando uma cadeira para sentar na calçada com toda a pompa e circunstância, e ficar observando como uma rainha sentada no seu trono, o movimento da fila. O pessoal lá do final da fila, vendo aquela movimentação, achou que tinham acabado os ingressos. Aí o PM explicava que estava atendendo o pedido da dona da Relojoaria Tupy para a fila não parar em frente à loja, atrapalhando os clientes. Quando ele chegou perto lí a sua identificação: VIEIRA. Um personagem importantíssimo no desenrolar das cenas seguintes: o Guarda Vieira.

IV. A fila parou de andar, passando alguns minutos das 15 hs. e a galera começou a se impacientar. Uma atriz atrás de mim, diz para o Guarda Vieira que passava naquele momento: " Olha aí Seu Guarda, daqui a pouco esse povo vai ficar agressivo". Ao que ele responde provocador: "A Polícia também pode ficar agressiva". Foi a deixa para esta escriba retrucar: "O papel da Polícia é o de conter a agressividade e não ser agressiva". Dei esse texto, olhando dentro do ôlho dele, que me olhou fundo, não falou nada, mas a sua expressão corporal deu o texto: "Mandei mal, não?". A atriz, esperta, sugere a ele procurar alguém da produção para vir dar uma satisfação para o povo. Ele concordou prontamente, e somem os dois. Volta a atriz dizendo que dali a pouco viria alguém da produção dar explicações.

V. Às 15,30hs mais ou menos entra em cena, no alto das escadarias da porta principal, acompanhado do Guarda Vieira, agora portando uns óculos pretos estilo punk, alguém que se apresentou "Sou da produção do espetáculo", ( leia-se o diretor teatral Luiz Fernando Lobo ) e pede um pouco de paciência que o atraso se devia a mais de duzentos ingressos que estão vindo on-line, da RIOARTE. A pergunta estava no ar: como a RIOARTE anuncia pela imprensa, e na segunda-feira ainda não estão disponíveis todos os ingressos na bilheteria. Um distinto senhor de cabelos brancos, atrás de nós, comentava: É normal isso, hoje é tudo via Internet. Nessa hora, eu avistei lá em cima nas escadarias, o cambista que me vendeu o ingresso na quinta-feira passada. Após as explicações da "produção do espetáculo", ele desce as escadas e vem conversar com mais cinco sorridentes colegas cuja expressão corporal dos pés à cabeça mostrava uma alegria e felicidade inusitadas, constrastando com a nossa, numa fila há quasi quatro horas, e aquelas alturas, cansados, caidos e angustiados .

VI. Quasi às 16 hs. a fila começa a andar. Gritos de alegria e aplausos, mas durou pouco essa euforia, dali há uns 15 minutos, a fila parou. Tinham acabado os ingressos, diziam alguns que no número 29, outros, que no número 45. Desta vez eu ja estava em frente ao T. C. Gomes. A estas alturas, a galera estava mais do que impaciente. E o pessoal que estava na fila lá atrás começa a vir pra frente do teatro, foi quando veio um pessoal lá da Angel e uma menina começa a fazer uns movimentos estranhos com o corpo, e a leitura corporal foi ficando clara: ela expressava com o corpo o seu descontentamento. E pela segunda vez, passeia pela fila uma simpática senhora dizendo baixinho: se não quiser ficar na fila eu tenho ingressos prá vender.

VII. Mais ou menos 16,30 hs, volta à cena o Guarda Vieira, acompanhado da "produção do espetáculo" que desta vez dava outra versão para os fatos: está havendo um problema técnico, e só quem pode resolver é um ator de Peter Brook que está chegando de São Paulo para liberar uma parte da platéia -- as três primeiras filas para vendermos ao público. Mandou mal. A galera começa a cobrar a informação anterior sobre os duzentos ingressos que estariam chegando on-line e os ânimos se exaltaram. E o Guarda Vieira, levanta os braços e faz gestos pedindo calma. Aquele distinto senhor agora mudando de idéia, diz: É tudo 171. A partir daí, as filas praticamente inexistiam, e muitos debandavam. Outros cansados, com fome, sentados nas escadarias, (nunca comi com tanto gôsto aqueles biscoitos de polvilho Globo) acompanhado de uma Coca-Cola que uma amiga trouxe do bar em frente, onde uma menina faminta, ousou comer um pastel.

VIII - Às 17hs. o caos era completo,e o pessoal das filas de trás vinha pra frente, eesta vez ,furando a fila, e corriam boatos os mais inusitados, desde que os ingressos tinham acabado até outros bem malucos. Alguém gritava nas escadarias em frente à bilheteria (as duas bilheteiras estavam sumidas): Chamem o Vieira para ligar para RIOARTE. Cadê o Vieira?. A estas alturas até o Guarda Vieira também tinha sumido. Alguém sugeriu ligar para a imprensa e eu consegui com um amigo, o telefone da Geral de OGlobo, e uma atriz amiga nossa foi ligar, mas não conseguiu, estava sempre ocupado. E nessa hora, eu agradecia aos deuses do teatro pelo ingresso comprado com o cambista. E teve até um amigo meu querendo saber se eu tinha o telefone desse cambista, porque ele não estava aguentando mais ficar na fila.

IX - Passando uns dez minutos das 17 hs. aparece novamente nas escadarias , "a produção do espetáculo", e desta vez o Guarda Vieira estava ausente da cena. E a explição era nestes termos Não é culpa da RIOARTE, não é culpa do Teatro Carlos Gomes. A culpa é da produção do Peter Brook. Estamos entrando em contato com eles para liberar a venda de ingressos para o ensaio geral da quarta-feira.Como das outras vezes, ele não sabia responder quando perguntado, a que horas voltariam a venda dos ingressos. Foi interrompido nas suas explicações, por alguém que gritou um sonoro palavrão, e outros começaram a gritar, pedindo uma senha para voltarmos no outro dia. A solução mais sensata, e mais uma vez "a produção do espetáculo" faz ouvidos de mercador. Vaias seguidas de outros palavrões, ao que a "produção do espetáculo" revida ameaçando fechar o teatro. Para quê? Se ele não sai de cena rápido, a sua integridade física correria altos perigos. Nesse momento, entraram em cena seis PMs nada amistosos, e ficaram ali no saguão, á espreita. E o Guarda Vieira? Era a pergunta que estava no ar. A estas alturas, em movimento contínuo passava pela frente do Carlos Gomes, aqueles que cansados e desesperançados desistiram da empreitada.

X - Às 17,20hs. as bilheteiras já podiam ser vistas na bilheteria, e a galera que estava deitada ou sentada nas escadarias corre para os seus respectivos lugares na fila, e recomeçam a venda dos ingressos. Uma ligeira confusão, logo desfeita porque os ingressos eram vendidos pela ordem numérica e pelo nome com a apresentação da carteira de identidade. E às 17,35 hs eu estava na posse dos meus dois ingressos.

PS. - Soube hoje (terça-feira) na aula da Angel que os cambistas estavam oferecendo ingressos a sessenta reais, no barato, quando acabaram as vendas na bilheteria, e ameaçando cobrar cem reais na estréia, e que houve um tumulto as sete horas da noite. O povo que não conseguiu comprar ingresso, queria derrubar as portas do Carlos Gomes, e que a PM conseguiu controlar a situação.

18.6.02

Tudo por causa do "Hamlet de Peter Brook"

Depois de ficar cinco horas na fila, segunda-feira, conseguí afinal comprar o ingresso para a estréia do Hamlet de Peter Brook. Cheguei às 12,40hs. e saí da bilheteria do Teatro Carlos Gomes às 17,35 hs, com fome (não tinha almoçado), cansada, mas feliz com o meu ingresso na mão. Até agora não conseguí entender porque os ingressos todos não estavam disponíveis na bilheteria -- eram vendidos aos poucos, no máximo uns cincoenta ou sessenta ingressos -- e a fila de quilometros, parava para aguardar a próxima venda que demorava no mínimo uma hora. Nessa confusão muita gente desistiu e foi embora, a situação ficou tensa, e os mais exaltados ameaçavam iniciar um quebra-quebra. Sinistro.

16.6.02

CLIPPING

I - Chocante. Nenhum menção sobre GIANNI RATTO, nos segundos cadernos dos principais jornais do País nas matérias sobre o "Arlecchino" e o Piccolo de Milão. Giani, diretor italiano radicado aqui há mais de quarenta anos, e com uma contribuição definitiva para o desenvolvimento do moderno teatro brasileiro como diretor, cenografo, iluminador, figurinista. Ele é um dos fundadores do Piccolo, e foi o autor dos cenários da versão de 1947 e de 1952 do "Arlechino ...". Eu só soube na segunda-feira, ao ler o programa da peça.

II - Eu sou fã do Mion.

III - OSCAR NIEMEYER, entregou ao Martinho da Vila, o projeto da quadra de ensaios da Vila Isabel num terreno doado pelo govêrno do Estado. "Resolvi fazer o projeto e dar de presente para a Vila Isabel", disse aqui o Seu Oscar. Isto dá samba.

IV - Falei pelo telefone com a Dona Antoninha. Ela está tri-contente gauderiando lá em Porto Alegre. Conversamos e rimos muito. Adoro o senso de humor e a joie de vivre da minha Mãe. Uma Mestra na arte de viver.

V - Para os amigos que vêm aqui e comentaram que não sabiam do espetáculo de Peter Brook e o "Hamlet" devo esclarecer que se tivessem lido o meu outro blog, o Teatro ETC & Tal, ficariam informados da efeméride. Esta notícia com todos os detalhes foi postada lá há quasi um mês -- no dia 26 de maio.

15.6.02

Caí no boato de cambista!...

A maior surprêsa ao ler hoje em O Globo a matéria da Roberta Oliveira sobre o Hamlet de Peter Brook que no final, informava: "Para quem ainda não comprou as entradas que restam serão vendidas na bilheteria do Carlos Gomes na segunda-feira."

Telefonei para lá e a bilheteira confirmou que ainda havia ingressos disponíveis para os três dias, e seriam vendidos segunda-feira, na bilheteria do T.C.Gomes, das 14hs. as 18hs. E pediu que chegasse antes da bilheteria abrir. Mencionei que eu havia comprado ingresso de um cambista na quinta feira, a uma e meia da tarde, e ela disse que eles (os cambistas) se encarregam de espalhar que os ingressos estão esgotados.

Fiquei sabendo também que só venderam de segunda até quarta-feira para não tumultuar a bilheteria nos outros dias. E outra, a fila "E" do balcão é a última fileira, e pediu para eu mandar por fax o meu bilhete para verificar se não seria falsificado. Só me faltava essa. Segunda-feira, eu só vou trabalhar á tarde, então vou aproveitar e encarar a fila do Carlos Gomes para comprar para a estréia, quinta-feira, no dia 20. Não vou assistir da última fileira do balcão e no último dia. E vou tentar passar adiante este ingresso.

14.6.02

Peter Brook transforma HAMLET em tragicomédia contemporanea

SÃO PAULO (Reuters) - O teatrólogo inglês Peter Brook buscou ir além do drama "ser ou não ser" em sua nova montagem que estréia nesta quinta-feira em São Paulo, transformando "A Tragédia de Hamlet", um clássico de William Shakespeare, numa tragicomédia contemporânea.

Brook, tido como uma lenda viva do teatro moderno, revela o príncipe da Dinamarca como um jovem negro de dreadlocks, cuja aflição mais pungente vai além da obsessão de vingar a morte do pai. Nesta montagem, a verdadeira tragédia são os percalços que atrapalham os planos de Hamlet de chegar a seu objetivo.

Para obter esse efeito com uma estética moderna, ele conta apenas com oito atores, um tapete vermelho, algumas almofadas coloridas e uma trilha sonora feita ao vivo com alguns instrumentos, como cítara e bongô.

Essa não é a primeira incursão inventiva do diretor de 77 anos no repertório shakesperiano. O reconhecimento mundial para seu trabalho veio em 1962 justamente com "Rei Lear", através do qual se destacou por sua ênfase na movimentação física dos atores.

Vivendo em Paris desde anos 1970, onde comanda o Théâtre des Bouffes du Nord e o Centro Internacional de Criações Teatrais, ele é considerado um dos principais representantes do teatro austero, que se contrapõe ao teatro espetáculo -- voltado ao mercado e às cifras de bilheteria, como as montagens da Broadway.

Na nova versão da história de Hamlet, que chega ao Brasil encenada em francês, Brook cortou mais de 40 por cento da obra original, reduzindo-a a duas horas e meia, que passam quase despercebidas graças aos diálogos regados de humor traduzidos para o português em legendas exibidas no alto do palco.

O protagonista da peça, o negro William Nadylan, busca não apenas chocar o espectador ao surgir como um príncipe nórdico, mas também dar sua contribuição pessoal ao texto enquanto interpreta.

Nadylan é capaz de reverenciar o fantasma do pai como um verdadeiro membro da realeza, ou pular sobre a tumba de Ofélia transbordando de ira, e até se fingir de louco, mas em grande parte da peça movimenta-se mais com a informalidade de um jovem de subúrbio de qualquer grande cidade.

"Esse ator é excelente", elogiou o ator Paulo Autran à Reuters depois de assistir o ensaio aberto para convidados na tarde de quarta-feira, em São Paulo. "Não sou crítico, mas saí encantado com a peça".

"A Tragédia de Hamlet" excursionou por diversos países em 2001, sendo encenada principalmente em inglês, e foi considerada pela crítica especializada como um marco entre as inúmeras reinvenções dos textos de Shakespeare.

O espetáculo estréia no Sesc Vila Mariana, em São Paulo, com ingressos esgotados. Depois viaja ao Rio de Janeiro, onde será exibido no TeatroCarlos Gomes de 20 a 22 de junho.

(Por Thiane Loureiro)

PS. Este post é uma contribuição do antenado ator Paulo Duek.
Hamlet, de Peter Brook estréia na próxima semana com ingressos esgotados

É isso mesmo. Agora só na mão de cambistas. E pela primeira vez na minha vida eu compro um ingresso para um espetáculo teatral na mão de cambista. Os ingressos para os três dias foram postos á venda na terça, e ontem á tarde já estavam esgotados. Até a semana que vem quando sairem as reportagens dos jornais e TVs estarão valendo quatro ou cinco vezes mais. Aqui, uma entrevista com Nadylam, o ator que faz o papel de Hamlet.

Saiu uma notinha em O Globo, e o boca-a-boca se espalhou entre os mais antenados. Soube hoje lá na UNIRIO que já tinham se esgotado, ontem. Corrí de lá para o Teatro Carlos Gomes e comprei -- com muita sorte -- pelo dobro do prêço, e na quinta fila do balcão, para o último dia, sábado, dia 22, um dos poucos ingressos que restavam na mão do cambista.

Ah, vai rolar também uma oficina para atores, de quarta a sabado de 9 às 12 hs. com um dos principais atores do Peter Brook, a cento e quarenta reais, e que também já está esgotada. Esta não saiu no jornal, só foram avisados os amigos dos organizadores. Eu e mais uns vinte estamos na fila de desistência. Se eu conseguir este milagre, vou faltar pela primeira vez, o meu trabalho.

13.6.02

CLIPPING

I - Ferrucio (Arlecchino) Soleri declarou que tem exatos setenta e seis anos. É o que me informam as colegas lá da Angel que estiveram presentes na aula-espetáculo na UNIRIO. Eu perdi essa porque cheguei atrasada. No texto do programa da peça diz que ele tem setenta anos. Voilà. Pas d´importance.

II - Não fui só eu que dormi no primeiro ato do "Arlequim" que foi muito chato. Alguns colegas de teatro e de dança também acharam o mesmo, e dormiram, só acordando no segundo e terceiro atos -- ótimos. Nem a presença do Ferruccio salvou o primeiro ato.

III - Hoje, chegando no trabalho e, em plena operação prevenção (detalhes no post Com medo, eu?) ouço um barulho altamente suspeito vindo da sala contígua. Rolou o maior stress até eu sacar que o ruido suspeitoso vinha do andar de cima.

IV - O meu celular não apareceu até hoje. Comprei outro. Em vista disso, fiquei mais esperta, (esperta?). Quando saio da minha sala, mesmo por alguns instantes, guardo tudo no armário fechado a cadeado, além de fechar a porta da sala com chave. Antes eu só fechava a porta de entrada, e deixava os armarios, bolsas, tudo abertos. Mas uma colega mais experiente me falou pra trancar tudo antes de sair da sala. É a operação prevenção 2.

V - Atenção gALLera (quem posta assim?) de sexta a sabado da próxima semana no Teatro Carlos Gomes teremos o Hamlet dirigido pelo Peter Brook -- um dos cinco melhores diretores do mundo -- com um ator francês negro fazendo o papel-título. Corram porque lá em São Paulo, onde eles se apresentam nesta semana, os ingressos já esgotaram. Quem avisa ...

12.6.02

Aula com bambu, pesquisa de movimento e os nossos festejados varões

Hoje (terça-feira), na aula de conscientização e expressão corporal da Mestra Angel Vianna o quarto varão que adentrou a sala, foi aplaudidíssimo pela mulherada. O porquê dos aplausos ? Porque normalmente os homens da aula, faltam muito, e, hoje até o Ronaldo que é quase sempre o único varão presente no meio de mais de vinte mulheres, e que andava sumido, foi o primeiro a chegar.

Em uma hora e meia de aula, depois dos alongamentos, etc. e tal, trabalhamos com bambu (daquele bambu grandão quasi uns cinco ou seis centimetros de diametro, cortado ao meio, e uns cincoenta centimetros de comprimento) apoiando nos metatarsos, batata das pernas, atrás dos joelhos, e depois na região do sacro. E no final, em pé, apoiando os metatarsos no bambu trabalhamos o equilibrio, sustentando o movimento e parando na ponta dos pés e no perfeito uso corporal -- o xis do problema. Isto é, sem despencar bordas dos pés, dedão apoiado no chão, em cima dos isquios, cristas ilíacas apontando pra frente, coxo-femural pra frente, e outras sutilezas posturais.

Depois de tudo, fizemos o mesmo trabalho de equilibrio sem o apoio do bambu. Andamos muito pela sala (com presença nas costas como o Mestre Mosca, o Canalha Amarelo, ensina aqui nesta foto.) na ponta dos pés em movimentos cruzados, ou não, com movimento de braços ou sem, e depois pesquisando movimentos com os braços. Cada aluno pesquisou o seu movimento, mas o João Saldanha, criou uma movimentação linda com a liderança dos braços. Não fora ele um bailarino e coreografo talentosissimo.

E no mas, é como falou o Mestre Klauss Vianna (1928-1992): Ninguém ensina a dançar. A pessoa tem a dança dentro dela, o professor é só o parteiro.
Este post é uma homenagem a uma psicologa, ex-aluna do Klauss e Rainer Vianna, a nossa vizinha blogueira, a Marilia, do blog Divina e Graciosa.

11.6.02

Um espetáculo cincoentão

Um Teatro Municipal lotado, ontem á tarde, para assistir Arlecchino servitore di due patroni de Goldoni, dirigido pelo Giorgio Strehler, fundador do Piccolo Teatro di Milano, na montagem original que vem sendo representada há cincoenta anos.

Eu demorei um pouco para me situar nesta montagem. É muito estranho para a gente ver um espetáculo criado há cincoenta anos atrás. Estranhei dos figurinos (todos em tom pastel, com direito a muitos brilhos de lantejoulas nas roupas dos nobres) à direção. Para completar, o público era qualquer nota -- aplaudia e ria nos momentos mais inesperados. Superados os estranhamentos todos, embarquei na proposta e as três horas de espetáculo passaram rapidamente.

Os atores desta montagem são um espetáculo á parte. Dão uma aula de teatro. Ótimos, com pleno domínio do seu personagem, uso corporal compentente (eles são circenses também, aliás, as origens do circo ficam evidentes no espetáculo), e além disso, cantam muito bem. E o maravilhoso, o sensacional, o supreendamental Ferruccio Soleri quando tirou no final, a máscara do Arlequim, mostrando os seus cabelos brancos nos seus gloriosos sessenta e tantos anos, o público delirou.

Que passes de mágica conservam esse distinto senhor na melhor performance de um jovem atleta -- dá saltos, cambalhotas, faz parada de mão (apoiar as mãos no chão e levantar os pés para cima, sustentando a posição) e outras manhas e artes na pele do Arlequim, durante três horas de espetáculo? Mistérios da arte e da vida. Ah, não poderia deixar de falar aqui da marcação do agradecimento no final. Um dos mais belos agradecimentos que eu tive a oportunidade de ver no teatro.

Atenção povo de Sampa ! Dias 13 e 14 nesta quinta e sexta, o espetáculo vai estar em cartaz no TEATRO ALFA.

10.6.02

Tim, sem medo

Não dá pra entender como a TV Globo manda o seu reporter num taxi de aluguel para fazer uma reportagem investigativa e de altíssimo risco, como se fosse fazer uma cobertura de aniversário no Baixo-Bebê, na praia do Leblon. E com a agravante de que ele não apareceu de volta no horário combinado com o motorista. E segundo as declarações do próprio, só depois de duas horas de espera resolveu se mandar porque o lugar era perigoso...

Há muita coisa entre os donos dos poderes nesta terra que a nossa vã imaginação não alcança...

8.6.02

Quem vai para o tronco levar relho no lombo ? Isto é bronca de blogueiro gaúcho -- o K@bça.

Uma passagem rapidinha aqui para um rápido alô. Hoje tem forró no arraial da Flavia e do Ernesto. Aniversário da Flavia. Vamos forrozear!

6.6.02

Ferruccio Soleri

Hoje á tarde no Palcão da UNIRIO completamente lotado, professores, estudantes, atores, e até a Camila Pitanga, espremidinha lá na cabine do som disputando um mínimo espaço com a galera, e eu que cheguei atrasada assistí em pé, disputando ombros baixos para poder ver o palco. A causa dessa agitação toda era a aula-espetáculo sobre Arlequino e o uso da máscara na Commedia dell´Arte pelo ator FERRUCCIO SOLERI, do Picollo Teatro di Milano.

Ferruccio, que representa há mais de trinta anos o personagem Arlechino falou sobre os vários personagens da commedia dell´arte, e fez demonstrações de suas performances ao vivo e em vídeo com trechos de algumas peças.

Ele é muito fera. É o exemplo do que pode um ator perfeitamente afinado com o seu instrumento de trabalho -- o corpo. O Arlechino dele fala e faz improvisações só com o uso corporal. Simplesmente genial.

Ele faz o papel principal de Arlequim servidor de dois patrões, em cartaz de amanhã a domingo no Teatro Municipal. Imperdível pelo trabalho de ator e pela
oportunidade de ver um espetáculo da commedia dell´arte pelo Picollo de Milão.

4.6.02

...pois tudo o que diz respeito ao corpo, implica em cabeça também.

Hoje na aula de conscientização e expressão corporal com a Mestra Angel Vianna, trabalhamos com bolinhas (bola de tenis), massageando os pés em movimentos circulares e em posição sentado e em pé. Trabalho poderosíssimo. Ainda trabalhando a nossa base de sustentação, trabalhamos com barra de madeira maciça 30cmx10cmx4cm de altura, apoiando o metatarso em várias posições nessas barras. Depois as mesmas colocadas numa longa fileira vertical, andamos, um pé atrás do outro -- apoio do dedão é fundamental no pisar e o calcanhar pisando firme no chão. Tá pensando que é fácil? Experimenta. Eu trabalhei em dupla com o coreografo e bailarino João Saldanha (o filho), professor da Faculdade Angel Vianna, e que aparece algumas vezes para fazer aula com a Mestra. Ele me deu uns toques bem interessantes no equilíbrio. Eu estava com a coxo-femural ligeiramente voltada para o lado e não pra frente, como seria o uso corporal correto. Isto é muito sutil para se perceber e é o que mais acontece. E como diz a Angel:a gente faz errado pensando que tá certo e quando tá fazendo certo, pensa que tá errado. É muito simples, o movimento. Nós é que complicamos o nosso uso corporal. Pois tudo o que diz respeito ao corpo implica em cabeça também.

3.6.02

Desculpe Gravatá, não deu para colocar o acento circunflexo (hum...circun... flexo?) no Antonio. Agora vamos ver se vai pegar a acentuação: Luiz Antônio Gravatá.
Saí no Gravatá !

Este blog foi citado hoje na coluna de blogs do Luiz Antonio Gravatá no Caderno de Informática de O Globo. O Gravatá tem o maior IBOPE. Amigos, conhecidos e outros que não me procuravam há um tempão, telefonaram para cumprimentar. Valeu, Luiz Antonio Gravatá.

2.6.02

Emoções blogueiras

Hoje, eu não estou me cabendo... e o motivo tá aqui. Fiquei muito contente e comovida com o gesto desta bípede super gente fina, dona do blog que é a mais perfeita tradução entre os Blogs de Gente Grande.

1.6.02

Porque hoje é sabado... e eu tô enrolada aqui fazendo uma arrumação nesta bagunça, e uma surprêsa que poderia ser agradável: uma nota novinha de de cinqüenta cruzados novos achada no meio da papelada, dentro de uma pasta de contas de1991. E a nota tem um carimbo quadrado no meio dela: 50 cruzeiros. Afinal seria 50 cruzados ou cruzeiros?.
Ah, tem também a foto do poeta Carlos Drummond de Andrade na frente e no verso, com direito a uma poesia em letras microscopicas. Como, quando e porquê, esta nota foi parar alí, não faço a mínima ...