21.10.07

Na Desordem

-Onde se passa?

- Na França. Isso também é espantoso! Passa-se na França, na nossa casa, hoje, ainda que inegavelmente haja relatos, lembranças, visões, do passado. E é um espetáculo vivido por gente de hoje.

-Quem são les Éphémères?

-Os seres humanos! Somos nós "Les Ephémères".

-Há um texto escrito?

-Não.

-Há uma trama única?

-Não há trama única. É um espetáculo feito, como já disse, de aparições, de cada um dos atores, de nós, de todos, que se entrelaçam, que se tecem (...)

Penso que há um fio condutor. Mas quando ele se torna visível demais, transforma-se em amarra, em garrote. É preciso que esse fio, no trabalho, seja como um fio de teia de aranha (...)

Há uma unidade, mas não há roteiro, não há ligação. As visões dos atores são como uma coletânea: relacionadas, mas autônomas. Quando se lê uma coletânea de contos, quando do mesmo escritor, eles têm uma cor em comum, mas são autônomos, e a gente pode e deve lê-los como sendo contos distintos. São em si um começo, um meio e um fim (...)

Quando digo que não é roteirizado, não é mesmo, não há amarração, é como coisas que sobem à superfície (...) são camadas que se sucedem (...)

Onde está o teatro?

-Você fala muito de experiência, de concreto, de vivência, de transmissão, tem-se quase a impressão que se está unicamente no real. E o imaginário e o sonho dentro dele?

-Muitas vezes me fiz essas perguntas em determinado momento de nosso trabalho. Aliás, eu as tinha feito também quando de nosso espetáculo anterior "Le Dernier Caravanserail": o medo do real. "Atenção! Onde está a poesia, onde está o teatro?" Depois em acalmei. Não, trata-se de teatro. Mas com este espetáculo há uma relação com a precisão do instante vivido (vamos talvez dizer "vivido", em vez de "real") pois, afinal de contas, há no vivido uma parte, eu diria, de sonho, nem sempre, mas há, em todo caso, uma parte de imaginário, de fantasmático e de mitologia (...)

Somos dignos de ser heróis e heroínas de teatro? Também me fiz essa pergunta. Durante esse trabalho, às vezes, depois de uma improvisação particularmente forte, a gente se dizia "eu não sabia que era possível contar isso no teatro!" Era um instante extremamente real! Nós nos dissemos isso muitas vezes e ainda dizemos! "Eu não sabia que era possível contar isso, desse jeito, no teatro". Mas no teatro, veja bem. (...)
Fonte: Programa da peça editado pelo SESC-SP, especialmente para a temporada na futura unidade SESC-Belenzinho.
Onde está o teatro?

-Você fala muito de experiência, de concreto, de vivência, de transmissão, tem-se quase a impressão que se está unicamente no real. E o imaginário e o sonho dentro dele?

-Muitas vezes me fiz essas perguntas em determinado momento de nosso trabalho. Aliás, eu as tinha feito também quando de nosso espetáculo anterior "Le Dernier Caravanserail": o medo do real. "Atenção! Onde está a poesia, onde está o teatro?" Depois em acalmei. Não, trata-se de teatro. Mas com este espetáculo há uma relação com a precisão do instante vivido (vamos talvez dizer "vivido", em vez de "real") pois, afinal de contas, há no vivido uma parte, eu diria, de sonho, nem sempre, mas há, em todo caso, uma parte de imaginário, de fantasmático e de mitologia (...)

Somos dignos de ser heróis e heroínas de teatro? Também me fiz essa pergunta. Durante esse trabalho, às vezes, depois de uma improvisação particularmente forte, a gente se dizia "eu não sabia que era possível contar isso no teatro!" Era um instante extremamente real! Nós nos dissemos isso muitas vezes e ainda dizemos! "Eu não sabia que era possível contar isso, desse jeito, no teatro". Mas no teatro, veja bem. (...)
Fonte: Programa da peça editado pelo SESC-SP, especialmente para a temporada na futura unidade SESC-Belenzinho.
Trechos do encontro com o público - Théâtre du Soleil - 20 de outubro de 2006

Ariane Mnouchkine, a respeito de "Les Ephémères":

Primeiro dia


-(...) Sim, houve um primeiro dia (...)

Quis, confusamente, fazer um espetáculo que falasse dos salvadores... dos instantes salvadores. A gente não se mata o tempo todo, a gente se salva, apóia, cuida, educa também. Os seres humanos conseguem, apesar de tudo, viver juntos. Antes de falar com os atores, eu tinha me dado conta de que para fazer um espetáculo sobre a beleza dos homens e das mulheres era preciso que eu imaginasse seu desaparecimento. Foi com isso que começamos a trabalhar, com o desaparecimento próximo e certo de todos, de todos nós.

O tempo reencontrado

-(...) Acontece que estamos fazendo um espetáculo que fala de instantes... Do presente que já não é o presente no momento em que digo a palavra "presente". Talvez da beleza dos seres, da dificuldade que temos em apreender essa beleza, e quando, às vezes, nos damos conta do quanto esse instante era belo, puxa, ele já passou. É um espetáculo feito dos instantes que nos fizeram.

"A aposta da semelhança"

(...) Ás vezes nós mesmos não sabemos muito bem no que vai dar o espetáculo que estamos fazendo. O espetáculo é algo que a gente faz, é claro: a gente se levanta todas as manhãs para ir trabalhar durante longas horas. Mas o espetáculo também chega a nós em partes! Chega por meio de Shakespeare, de Sihanuk, de Gandhi ou de Nehru, de médicos desonestos que vendem sangue contaminado, ou de Tartufos, ou de refugiados, de imigrantes, que contam suas histórias. O que é difícil de confessar, às vezes de admitir, é que o espetáculo, que está chegando, chega por meio de "nós". E, portanto, de "vocês". De nossas semelhanças (...)

Esperamos que - ou temos certeza de que - os instantes que nos fizeram são muito próximos dos instantes que fizeram vocês. Que os lutos que vivemos, são muito próximos dos lutos que vocês viveram.

Que os abandonos que sofremos são próximos dos abandonos que vocês sofreram, e que nossos amores, nossas paixões, nossas esperanças, são também as de vocês (...) Trabalhamos a partir do concreto, evidentemente, o concreto de nossas vidas, o concreto de nossas mães, de nossos pais, de nossos avós, da ausência deles, dos momentos em que eles nos fizeram bem, e dos momentos em que nos fizeram mal. Dos momentos em que também nós lhes fizemos bem ou mal! A partir da fratria, da brutalidade que muitas vezes exercemos contra as crianças, a maior parte do tempo sem querer, às vezes querendo, infelizmente (...)

Edmond Jabès escreveu em Le Livre des ressemblances [O Livro das Semelhanças] que a aposta de Deus é aposta de semelhança. "A que eu me assemelho?" seria talvez a pergunta fundamental do Homem a Deus e a seu prosaico semelhante?.

A gente se faz essa pergunta incessantemente "a gente se parece"? E a aposta é "sim"! (...)

18.10.07

E o Soleil chegou a São Paulo

"Nós estamos muito felizes e emocionados com esta primeira turnê pela America do Sul, pois existimos há 43 anos e só agora nos apresentamos neste continente. Reconheço e agradeço o esforço, em particular do DaniloMiranda, para efetivar essa nossa vinda a São Paulo, que se deu graças à união do Brasil e da Argentina, mais precisamente das cidades de Buenos Aires e Porto Alegre , e do SESC.(...)

"Existem momentos em que as pessoas fazem pequenos gestos sem nenhuma intenção politica, mas que acabam tendo repercussão politica. Durante a guerra, por exemplo, muitas vidas foram salvas por pessoas que assim agiam, não por ideologia, mas simplesmente por amor ao homem. Porque eram humanos.
Creio que Les Ephémères é um espetáculo de vivencias e de momentos muito íntimos. Curiosamente, mesmo esse íntimo sendo muito íntimo, o espectador nele se reconhece.
Poderíamos dizer que existe um íntimo coletivo. (...)
Espero que o público brasileiro nos compreenda e nos ame. E sobretudo, que se reconheça na nossa proposição."


(Trechos da entrevista coletiva com ARIANE MNOUCHKINE no SESC de São Paulo, em 27 de agosto de 2007)

Fonte: Programa da peça "Les Éphemères organizado e editado pelo SESC-SP.
Hotel Maksoud Plaza o passaporte para Os Efêmeros

Eu assistí no domingo, dia 14, a versão integral da peça, (tô chapada até hoje e nem sentí o tempo passar). Soube nas internas lá Maksoud Plaza que haverá um espetáculo extra ( já com lotação esgotada ) no dia 24 de outubro.
Os ingressos foram colocados á venda na internet e nas bilheterias do SESC-SP e se esgotaram em menos de duas horas. O SESC divulgou só na véspera, a venda pela internet.
Eu já tinha comprado até passagem para São Paulo, e estava me preparando para amanhecer em Sampa na fila da bilheteria.
Com a perspectiva da venda on-line, resolvi comprar pela internet. Fiquei de plantão uma hora antes do site entrar. Não passsei do segundo passo, entre os cinco que acessavam o sonhado ingresso. Como eu conseguí ? Uma longa história que acabou me levando para uma hospedagem nunca imaginada no HOTEL MAKSOUD PLAZA, adquirindo assim o precioso ingresso para assistir o Soleil. Valeu..

O andante Soleil
Doze contêineres vindos da França, com arquibancadas, cenários, figurinos, piso de palco e até uma cozinha completa com todos utensílios necessários para produzir e servir refeições ao público, desembarcaram na America Latina, para a primeira apresentação, em 43 anos de existencia do Théatre du Soleil com o espetáculo Les Éphemères (Os Efêmeros).
A primeira parada foi em setembro, em Buenos Aires, no Festival Internacional de Teatro, depois em Porto Alegre no POA em Cena, e agora na futura unidade do SESC Belenzinho, desde o dia 12 de outubro, indo até dia 23 de outubro, da próxima semana.
Em todos os locais da apresentação foi reproduzida-adaptada-contruida uma réplica da sede Théatre du Solei.l, uma antiga fabrica de armamentos nos arredores de Paris. Em São Paulo, a futura unidade do Sesc Belenzinho uma área de 3.100 m2, foi preparada, onde o público (lotação com 600 lugares) irá conhecer o ritual de preparação dos artistas - os camarins não têm portas.
Quem tiver fôlego para assistir à versão integral (sete horas e meia) poderá ainda comer pratos preparados e servidos por eles. A peça também será encenada em duas partes.

Caravana Mnouchkine
O Théâtre du Soleil tem à sua frente a diretora Ariane Mnouchkine, ( foi criado em 1964, a partir de um grupo de nove amigos) e uma trupe de mais de 60 pessoas. No Soleil, convivem em harmonia pessoas de cerca de 30 nacionalidades, que se entendem em 22 idiomas, entre eles a atriz brasileira Juliana Carneiro da Cunha, o chef de cuisine, ator, produtor, etc. Pedro Pinheiro Guimarães e Naruna Bonfim de Andrade, tradutora, bilheteira do Soleil, relações públicas, entre outros trabalhos. As funções se confundem e o salário é igual para todos os integrantes da companhia.
LES ÉPHEMERES, está em turnê pelo mundo desde a sua estréia em 27 de dezembro de 2006, na Cartoucherie (Paris), reúne dois espetáculos, de aproximadamente mais de três horas, sobre a essência humana. Trata daquilo que nos tece, nos liga uns aos outros, de palavras que salvam a vida, covardias invisíveis, atos de coragem de que não podemos nos vangloriar, obsessões por demais constantes para serem conscientes.

A ação transcorre em palcos móveis e circulares,( uma espécie de praticável redondo onde pode funcionar um consultorio, uma sala de estar, uma cozinha, um quarto, etc...e tudo funciona), que os atores manejam com a elegancia e uma expressão corporal perfeita. É absolutamente fascinante o uso corporal dos atores empurrando os praticáveis. Quando não estão em cena estão empurrando os praticáveis.

A companhia também traz a São Paulo uma programação paralela que inclui encontros com Ariane e mostra de filmes do Théatre du Soleil, workshop com Jean Jacques Lemêtre - compositor e interprete das produções teatrais e cinematográficas do Soleil.

Fonte de pesquisa: programa da peça
Degustação à la Soleil - Chef Pedro Pinheiro Guimarães
O menu do dia que eu assistí, domingo dia 14 de outubro, foi carne de cordeiro, arroz integral, banana assada, cenoura cozida no vapor, salada de rucula e alface. Delicieux e ao
preço camarada de R$ 15 (quinze reais).
Antes do espetáculo, degustei aqueles queijinhos divinos e vinho. Queijos e vinho foi num precinho amigo de R$ 20 (vinte reais). Adorei. Essa foi uma dica da atriz Cristina Aché que estava lá ajudando a servir na cozinha.

O maître da cozinha e do bar é um brasileiro, o Pedro Pinheiro Guimarães, que acumula as funções de produtor, ator, fotografo, tradutor entre outras atividades no Soleil.,um querido que eu conheço desde a primeira vez que eu fui à Cartoucherie. Aliás eu já conhecia ele daquela vez que a Ariane fez uma oficina de máscaras no Teatro Sergio Porto, aqui no Rio.

Ele e outra brasileira, a Naruna Bonfim trabalham há muitos anos com o Théatre du Soleil, Encontrei-a degustando o café da manhã no Macksoud Plaza, bem como toda a trupe Mnouchkine que estava hospedada lá.