27.9.02

Palhaça Sassá

Eu tenho um outro nome que o meu Pai e o meu irmão mais velho me deram quando eu tinha sete anos de idade. Quando criança, eu tinha cabelos compridos -- não era promessa nem nada parecido, o meu Pai achava bonito, e assim eu usei até os 14 anos, aquelas tranças enormes -- alvo preferido das brincadeiras dos meus irmãos e das outras crianças na escola. Para me poupar, a minha Mãe inventou um penteado que enrolava e prendia com grampos as longas tranças no alto da minha cabeça. Mas essa complicada engenharia não sustentava aquela montanha de cabelo, quando eu corria ou saltava ela ia despencando e desmanchando as tranças, e o cabelo assim desmanchado ficava parecido com o penacho de um passarinho: a Sariema ( também chamado de Seriema, um passarinho lá dos pampas do Rio Grande).

O meu Pai que adorava por apelidos nas pessoas, (Ele e o Leonel de Moura Brizola, são imbatíveis nesse quesito) passou então a me chamar de Sariema. Apelido esse que o meu irmão mais velho abreviou para Sassá por pura safadeza de criança. Ele, quando queria implicar comigo, e não tendo nenhum adulto por perto, ficava me chamando de Sassá da Bosta, e saía correndo para longe de mim. O da bosta, foi acrescentado por ele, porque alguns passarinhos, inclusive a sariema, se alimentam, principalmente, do cocô de boi, de cavalo e outros animais do campo.

É claro, que eu ficava furiosa, e saía correndo atrás do meu irmão pela casa inteira, pelo quintal, pelos campos (fui criada no interiorzão do Rio Grande do Sul, em Santiago do Boqueirão) empunhando vassoura, ancinho, rebenque, espeto de churrasco, ou o que eu encontrasse pela frente pra bater nele, mas felizmente ele tinha os pés mais ligeiros do que os meus. E o nome Sassá foi pegando e ficando, e tanto que as pessoas mais ìntimas me chamavam de Sassá.

Esse nome me reporta ao tempo de uma infancia feliz lá em Santiago do Boqueirão, e que ajudou não sòmente na minha formação de adulta, mas também me descreve na minha inocência e no que há de mais puro na minha vida: Sassá da Bosta .

Desde criança eu sou palhaça, só que eu não sabia disso.

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